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toda a especie de males os que os frequentassem, sendo impossivel amar a Deos quem gostasse de cauins, porque, dizia elle, quando descubro, que alguns dos meos similhantes se retiram das cauinagens, agouro que bem depressa serão christãos e vou procural-os; mas não tenho animo para fazer o mesmo aos que frequentam taes orgias.

O que elle dizia era verdade por ser horrivel espectaculo vêr essas gentes em reuniões, parecendo antes congresso nocturno de feiticeiros do que ajuntamento de homens.

Achei-me apenas uma só vez n’estas reuniões para d’ellas poder fallar, e nunca mais lá tornei.

Via aqui uns deitados em suas redes vomitando com muita força, outro caminhando ou marchando em diversos sentidos com o juiso perdido pelo vinho, ali outros gritando, fazendo mil tregeitos, estes dançando ao som do maracá, aquelles bebendo com muito boa vontade, aquell’outros fumando para mais se embriagarem, e o que ainda é peior, é estarem mulheres e moças ahi misturadas parecendo bem difficil a presença de Bacho sem Venus.

Por minha vontade os francezes deviam fazer o que fizeram os portuguezes, isto é, prohibir todas estas cauinagens: os portuguezes, depois que habitaram algum tempo na India, reconheceram, que um dos maiores embaraços para a propagação do christianismo eram essas reuniões diabolicas, de que procedem todas as discordias e desgraças entre os selvagens.

4.º Vestem-se estes novos christãos o melhor que podem, caminham todos juntos, não trazem flechas e nem arcos, excepto quando vão á caça ou a pesca, contentando-se em trazer um cacete de uma especie de ebano, negro ou vermelho, com que se distinguem facilmente dos outros.

Quando vão a outras aldeias, si encontram algum christão, recolhem-se á casa d’elle, contentam-se com o que tem e vivem sóbriamente como tanto convem a um christão.