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Si dermos credito a Santo Agostinho, no Tratado do Ante-Christo, é elle, que deve resistir a este Ante-Christo, como se vê em mais de um lugar.

Voltemos ao nosso homem.

Trouxe seo filho com muito respeito, e assentando-se n’uma rêde, e o rapaz perto d’elle, desculpou-se de não ter vindo logo vêr-nos e visitar-nos, assegurando porem ser um dos nossos melhores amigos, que desejava ter padres com elle na sua aldeia, que os acolheria muito bem, que nada lhes faltaria para a vida, nem javalis, veados, e outros bichos proprios á esse fim.

É por esta fórma que todos se desculpam.

Depois d’isto, assim fallou-me:

«Sou homem de idade, como vedes, porem tenho muita força, e espero vêr este meo filho, que aqui te trago, bom Caraiba, como me prometteo o Grande, que sympathisa com elle, quer vestil-o e tel-o aqui com os francezes.

Eis porque venho pedir-te para laval-o com agoa de Tupan: assevero-te, que elle sabe tudo quanto é preciso saber, e breve o ouvirás porque tive o cuidado que elle fallasse com os francezes, e todos me dizem que elle entende muito.

É bom rapaz e amigo dos francezes.»

Dizendo isto, fez signal a seo filho para aproximar-se, e ordenou-lhe que contasse tudo quanto sabia de francez.

Só com muito custo podia conter o riso, e nem si quer me era permittido usar do interprete que ria-se a bom rir, de tal simplicidade; comtudo, eu o tranquilisei pedindo-lhe desculpa pelas travessuras de um pequeno papagaio, que eu tinha, a fim de não pensar que era elle o provocador do riso.

O rapaz recitou-me a doutrina, que seo pae julgava bastante para receber o baptismo, e o fez d’esta maneira: bom dia, senhor, como estaes: Bem, senhor, prompto ao vosso serviço, quereis comer, sim: pão, peixe, carne, minha cabeça,