Para ler nas férias/Os netos do pescador

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Os netos do pescador
 

 

O tio Luís, pescador,
Falando com sua irmã,
Dizia preocupado:
― Quem me roubou a maçã?

«Eu pu-la em cima da mesa
«Atrás da cesta do pão.
« ¿Aqui não entrou ninguêm?
―Ninguêm. Só tu, meu irmão.

― Mas então ¿como diabo
Saíu ela do lugar?
Por mais que pense e repense
Não no posso adivinhar.

E enquanto assim discorriam,
João, cavalgando um pau,
Ia ao encontro da mãe.
― ¿D'onde é que vens, grande mau?

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― De casa do avôzinho.
― ¿Como está êle ? ― Não sei.
― Ainda não estava lá,
Por isso não perguntei.
 

A mãe, de bilha á cabeça,
Foi seguindo o seu caminho.
Berta dizia ao irmão:
― ¿Emprestas-me o cavalinho?

― Não, que êle é muito fogôso,
Só gosta de galopar.
Tu és pequena, não sabes
O modo de o governar.

― Empresta, empresta um instante.
― Já te disse que não posso.
― Dou-te a minha bonequinha.
― Pois bem : o cavalo é nosso.

Berta, pegando no tronco
Reparou-lhe na algibeira.
― ¿O que levas tu no bolso?
― E's curiosa e linguareira.

« ¿Que tens que vêr nos meus bolsos?
― ¿Então não sou tua irmã?
E's, sim, mas não é razão
Para te dar a maçã.

― ¡Pois tu tens uma maçã!
Dize, maninho, ¿quem deu?
― Quem a tinha. Não te importe.
― Se a achaste, alguêm a perdeu.
 

Pôs-se o João a pensar
Enquanto a irmã cavalgava:
Se tinha a maçã na mão
Alguêm sem ela ficava.

Volta a casa do avô
E diz-lhe com emoção:
― Isto de ter consciência
Não é muito bom, ¿pois não?

Riu-se o Luís pescador
E respondeu-lhe: ― ¿A que vem
Que tu perguntes se é mal
que p'ra todos é bem?

― E' que eu, tirando a maçã,
Quis, mas não pude come-la,
Porque pensei que era sua
E não tornaria a vê-la.

Então o avô pediu-lhe:
― Entrega o que me tiraste,
Pois não deve aproveitar-te
Aquilo que me roubaste.

João, muito envergonhado,
Volveu-lhe em tom comovido:
― Diz muito bem, meu avô,
E fico-lhe agradecido

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«Por me não ter castigado.»
E saiu sem se voltar.
No dia seguinte teve
Um bom presente ao jantar:

Um cestinho muito lindo
P'ra êle e p'ra sua irmã,
Trazendo entre a demais fruta
A cobiçada maçã.

O João, muito contente,
Contou tudo á bôa mãe,
Que ficou muito vaidosa
Do filho proceder bem.

 
Fim