Refutação de todas as heresias/IV/XLVIII

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E (Arato) que (as constelações) de Lyra e Corona foram colocadas próximas a ele - quero dizer, Engonasis - mas que ele se ajoelha, e levanta as mãos, como se estivesse confessando um pecado. E que a lira é um instrumento musical criado pelo Logos enquanto era uma criança e que o Logos é a mesma pessoa que se chama Mercúrio entre os gregos. E Arato, em relação à construção da lira, observa:


"Então, adiante, também perto do berço[1]
Hermes trabalhou, e disse, "Chamem-na de Lira."[2]

Consiste de sete cordas, que significam a harmonia e construção do mundo como se fosse constituído em uma melodia. Porque em seis dias o mundo foi criado, e (o Criador) descansou no sétimo. Se, então, diz (Arato), Adão, reconhecendo (sua culpa) e guardando a cabeça da Besta, de acordo com o mandamento da Deidade, imitará Lyra, isto é, obedecendo o Logos de Deus, que, submetendo-se à lei, ele vai receber a Corona que está situada próximo a ele. Se, entretanto, ele negligenciar seu dever, ele deve ser arremessado juntamente com a Besta que, e deve ter, diz ele, sua porção com a Besta. E Engonasis em ambos os lados estende suas mãos, uma para tocar Lyra, e a outra Corona - e assim esta é sua confissão - então é possível distingui-lo por meio da configuração (sideral). Mas Corona todavia é colocada contra, e forçosamente tirada por outra besta, um dragão menor, que é a prole daquele que é guardado ao pé[3] de Engonasis. Um homem também permanece firmemente com ambas as mãos, e arrastando no espaço atrás a Serpente de Corona; e ele não permite que a Besta toque Corona, fazendo um esforço violento para isso. E Arato denomina-o de Anguitenens, porque ele retém a o ímpeto da Serpente para alcançar Corona. Mas Logos, diz ele, é quem, na figura de um homem, impede a Besta de alcançar Corona, compadecendo-se dele que impede que o Dragão e sua prole alcançem seus objetivos.

Estas (constelações), As Ursas, entretanto, diz ele, são duas hebdômadas, compostas de sete estrelas, imagens de duas criações. Porque a primeira criação, ele afirma, é aquela ques está de acordo com Adão em seus trabalhos, aquele que é visto "ajoelhado" (Engonasis). A segunda criação, entretanto, é que está de acordo com Cristo, a qual somos regenerados; e este é Anguitenens, que luta contra a Besta, e impede que ela chegue até Corona, que está reservada para o homem. Mas "A Grande Ursa" é, diz ele, Hélice[4], símbolo de um mundo poderoso ao qual os gregos buscam, isto é, para aqueles que foram preparados. E, levado pelas águas da vida, eles seguem em diante, (tendo em vista) algum palavra revolvente de disciplina ou sabedoria que conduz aqueles que procuram tal mundo. Porque o termo "Hélice" parece significar um certo ciclo em direção aos mesmos pontos. Há da mesma forma a "Ursa Menor" (Cinosura[5]), como se fosse a imagem da segunda criação - aquela formada de acordo com Deus. Porque poucos, diz ele, seguem a jornada por um caminho estreito[6]. Mas eles afirmam que Cinosura é estreita, na direção em que Arato[7] diz que os sidônios navegaram. Mas Arato fala parcialmente dos sidônios, (mas quer dizer que são) fenícios, de acordo com a admirável sabedoria dos fenícios. Os gregos, entretanto, afirmam que os fenícios, que migraram da (margem) do Mar Vermelho até seu país onde eles vivem até hoje, segundo Heródoto[8]. Depois ele diz que Cinosura é a Ursa (Menor), a segunda criação; aquela de dimensões limitadas, o caminho estreito, não Hélice. Porque ela não faz com que eles recuem, mas os guia para frente por um caminhi ret aqueles que seguem (a cauda) de Cão. Porque Cão é o Logos[9], parcialmente guardando e preservando o rebanho, que é espreitado pelos lobos; e parcialmente, como um cão, caçando as bestas da criação, e as destruindo; e parcialmente produzindo todas as coisas, e sendo denominado pelo nome "Cíon", isto é, gerador. Daí dizem que Arato falou sobre a ascensão de Cão, expressando-se assim: "Quando, entretanto, Cão ascender, a colheita não se prederá mais>" E isto é que ele diz: as plantas que foram colocadas sobre a terra no período da ascensão de Cão, frequentemente, mas que nçao tenham raízes desenvolvidas, são ainda cobertas com muitas folhas, e indicam aos espectadores que são produtivas, aparentando serem cheias de vida, (apesar de que na realidade) não têm vitalidade alguma na raiz. Mas quando acontece a ascensão de Cão, os mortos são separados dos vivos por ele; assim as plantas que não têm raiz realmente ficam podres. Assim Cão, portanto, diz ele, como um ser tendo o Logos divino, foi indicado para ser juiz dos vivos e mortos. E assim como (a influência de) Cão é observada nos vegetais deste mundo, assim em plantas de crescimento celestial - dentro do homem - é observado o (poder de) Logos. Assim, então, Cinosura, a segunda criação, é colocada no firmamente como uma imagem da criação pelo Logos. O Dragão, entretanto, coloca-se no centro entre as duas criações, previnindo transições de qualquer tipo da maior para a menor; e aquilo que está na na criação (maior), como Engonasis, observando (ao mesmo tempo) como e de que forma é constituída a criação menor. E (o Dragão) é vigiado, diz ele, por Anguitenens. Essa imagem, ele afirma, está fixada no céu, sendo uma cerat sabedoria para aqueles capazes de distinguí-la. Se, entretanto, for obscuro, por meio de outra imagem, diz ele que a criação ensina (ao homem) a filosofar. Sobre isso diz Arato:

"Nem de Cepheus Iasidas nós somos a prole desprezível"[10]

Notas[editar]

  1. Perfurado até", isto é, furando os buracos para passar as cordas, ou, em outras palavras, construindo o instrumento. A versão em latim de Buhle é as cunam (cunabulam) compegit, isto é, ele fixou as cordas em um casco de tartaruga próximo à sua cama. A tartaruga é mencionada por Arato na primeira parte da linha, o que remove a incerteza da passagem citada por Hipólito. A tradição geral corresponde a isso, representando Mercúrio nas margens do Nilo fazendo uma lira de um casco de tartaruga seco. A palavra traduzida como "cama" pode também significar "leque" [N.T.:Isso quer dizer que leques eram usados como berços? A palavra no inglês é "fan", que significa "leque".], que era usado como berço, desde que seu tamanho e construção fossem apropriados. [Ver nota, p. 46, infra.]
  2. Arat., Phaenom., v. 268.
  3. Ou "filho de" (ver Arato, Phaenom., v. 70).
  4. O abade Cruice considera essas interpretações, assim como as que se seguem, não são tomadas de um escritor grego, mas de um judeu. Nenhum grego, ele supõe, escreveria, como é dito em seguida, que os gregos eram uma colônia fenícia. As heresias judaicas eram impregnadas com esssas doutrinas tolas sobre as estrelas (ver Epifânio, Adv. Haeres., lib. i. Dos Fariseus).
  5. N. T.:Hélice e Cinosura, de acordo com a mitologia, são ninfas que cuidaram de Zeus, durante sua infância.
  6. A referência aqui é a Mateus 7:14.
  7. Arato, Phaenom., v. 44.
  8. Herod., Hist., i. 1.
  9. Ou "porque a criação é o Logos" (ver Arato, Phaenom., et seq.).
  10. Arato, Phaenom., v. 179