Romance de uma Velha/V

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A mesma sala do ato quarto

CENA I[editar]

CLEMÊNCIA e BRAZ, que chega

BRAZ (Grande cumprimento) – É de mestra!... agora, aconteça o que acontecer, não vá pedir-me em casamento; porque se arrisca à negativa certa.

CLEMÊNCIA – Tão feia ou má sou eu?

BRAZ – Nem feia, nem má; é porém um demoninho de arteira.

CLEMÊNCIA – Veremos nos resultados do artifício. Aqui todos guardam segredo: lembre-se que anteontem se declarou do meu partido...

BRAZ – Bati bandeiras aos seus pés, estou rendido, hoje mil vezes mais.

CLEMÊNCIA – Eu o esperava ansiosa para assegurar-me da sua discrição...

BRAZ – Beijo-lhe as mãozinhas pela dúvida.

CLEMÊNCIA – Agora... desculpe-me... devo completar o meu toilette...

BRAZ – Bata as asas e voa já ao paraíso do espelho. (Vai-se Clemência)

CENA II[editar]

BRAZ e CASIMIRO

CASIMIRO – Braz... Braz... então?... falaste-lhe de novo?...

BRAZ – Tranqüiliza-te, Casimiro! estás que pareces desvairado! para mim são favas contadas; anteontem falei-lhe pela primeira vez e sabes já que houve trovoada e chuva; isto é, rugidos de cólera e lágrimas de dor...

CASIMIRO – Coitadinha!

BRAZ – Ontem de novo ataquei a fortaleza, e, como te disse, Irene defendeu-se com reticências... monossílabos... e enfim com um “saberá mais tarde” assobiado a tremer, que me fez ficar sabendo mais cedo...

CASIMIRO – Confia talvez demais na minha felicidade...

BRAZ – Tão seguro estou de conseguir o meu fim, que, obtida a permissão da mãe e do irmão de Irene, já alcancei todas as dispensas admissíveis para o casamento... em poucos dias teremos a boda.

CASIMIRO – Excelente amigo!... mas hoje?... tornaste a falar-lhe?...

BRAZ – Não há duas horas; Irene é como todas as moças; está morrendo por casar; mas faz-se de boa para ser muito rogada; insisti na história, e ela sorriu-se vaidosa... corou... vês?... foi como se começasse dizendo; “eu...” e pontinhos: depois suspirou... vês?... foi como se acabasse dizendo: “quero” com ponto final et coetera.

CASIMIRO – Mas... como, suspirou... isso já e muito, e todavia... pode não ser coisa alguma.

BRAZ – Enganas-te: isso é sempre alguma coisa. Irene caiu no laço; juro-te que desde dois dias o seu olhar, a sua fisionomia, os seus enleios, a sua respiração muitas vezes comprimida, estão denunciando noiva.

CASIMIRO – É verdade que ela ontem falou-me com uma perturbação...

BRAZ – Queres mais claro?

CASIMIRO – Eu queria... o sim decisivo...

BRAZ – Também eu quis, pedi-o, e exigi-o ainda há pouco.

CASIMIRO – E ela?...

BRAZ – Quis falar... hesitou... apertou-me a mão, feliz Casimiro! e enfim, depois de muita confusão... rosas de pejo nas faces... agitação palpitante do seio, et coetera, afortunado Casimiro! ela murmurou a custo: “Poupe-me ainda... farei por chegar um pouco cedo para o banquete de dª. Violante... e lá... se nos acharmos sós... o senhor me ouvirá... e ficará contente de mim.”

CASIMIRO – Oh! ela disse isso? que tu ficarias contente dela?... então é certa a minha dita, Braz! é a conseqüência...

BRAZ – Lógica, está claríssimo: o contrário fora absurdo et coetera; e por essa razão corri a esperá-la aqui; entendi-me com o irmão, que as acompanhará até a escada da varanda, e voltará depois.

CASIMIRO – Ah, meu Braz!

BRAZ – Traduzo ou interpreto: desejas ouvir a minha conferência com Irene.

CASIMIRO – Se fosse possível...

BRAZ – Vaidoso! vaidoso! é uma traição que a tua noiva me agradecerá; quando ela chegar, entra no teu gabinete, e da porta entreaberta ouvirás tudo. Feliz Casimiro! eu ponho-me de sentinela. (Na janela)

CASIMIRO – Muito padece quem ama!

BRAZ (A janela) – Com efeito um amor assim fora de tempo deve andar aos tombos pelas rugas do coração; mas a madrinha, que é oito anos mais velha do que nós, mostrou-te o caminho do casamento...

CASIMIRO – Que doida! que velha ridícula!

BRAZ – Desta vez é a madrinha que traz nos olhos a trave; mas o argueiro que está nos teus é de um tamanho colossal...

CASIMIRO – Eu sinto verdadeiro amor...

BRAZ – Também a madrinha diz que o sente; é questão de mais ou menos cabelos brancos nos dois amores... mas... Irene chega... como vem formosa! afortunado Casimiro! ao gabinete, perverso.

CASIMIRO (Entrando) – Conversa de modo que eu ouça distintamente.

BRAZ – Podes contar com isso: conversarei fortíssimo.

CENA III[editar]

BRAZ, IRENE e CASIMIRO no gabinete

BRAZ – Minha senhora, dou parabéns à minha fortuna, pois que a madrinha e dª. Clemência ainda estão aprimorando os seus toilettes, e Casimiro e Mário provavelmente mostrando os seus.

IRENE – A fortuna de que fala é determinada pelo cruel dever de dar-lhe contas de mim ... compreendo que me cumpre falar, explicar-me, responder-lhe... mas custame... o vexame atormenta-me...

BRAZ – Na minha qualidade de homem é evidente que tenho menos vergonha e rompo a discussão, começando pelo fim, o que é mais em regra. Casimiro a adora; a sua mão de esposa vai aditar-me... uma só palavra sua resumirá mil discursos; diga – sim – , e está acabada não, mas principiada a história, e que história? et coetera.

IRENE – Devo ser franca: o sr. Casimiro está adiantado em anos e eu sou quase menina; poderia sentir por ele somente amor filial; como lhe consagrarei amor de noiva? o nosso casamento seria muito desigual, e ainda isso é o menos.

BRAZ – Caio das alturas: pois há mais?... tenha a bondade de chegar-se para mim, que sou um pouco surdo (Perto do gabinete) pois há mais?

IRENE – Há: disse que ele é demasiado velho para uma noiva de dezoito anos... tem três idades minhas.

BRAZ – Como?... esta surdez martiriza-me...

IRENE (Mais alto) – O sr. Casimiro tem três idades minhas.

BRAZ – Ah! isso é o menos: o que é o mais?...

IRENE – Pois que é necessário dizê-lo... confesso-o... eu já sou amada... e... amo...

BRAZ – Como?...

IRENE (Mais alto) – Já sou ... e amo...

BRAZ – Ah! essa circunstância... bilateral é bilateralmente grave.

IRENE – E ainda mais...

BRAZ – Mais?... então é o infinito na desgraça de Casimiro... estou caído das alturas et coetera!

IRENE – Não é o infinito, mas é o impossível moral e absoluto...

BRAZ – Que ilusão a minha! e eu que contava... mas então...

IRENE – O homem por quem sou amada, aquele que amo... sr. Braz...

BRAZ – Querem ver que sou eu...

IRENE – É... Mário... o filho do sr. Casimiro...

CENA IV[editar]

BRAZ, IRENE, CASIMIRO no gabinete e MÁRIO, no fundo

BRAZ – Como? esta surdez é o diabo.

IRENE (Alto) – O homem por quem sou amada... aquele que amo... é Mário...

BRAZ – Mário? a atrapalhação é séria; porém...Mário é um estróina.

IRENE – Tem o mais nobre coração... é jovem e belo; eu o amo...o seu defeito era a ociosidade... ama-me porém ternamente... (Abre-se a porta do gabinete; Casimiro com os traços decompostos; Mário ao fundo entusiasmado) eu conseguirei corrigi-la... e pelo encanto... pela pureza e santidade do nosso amor levá-lo a trabalhar, a ser útil a si, à sociedade, e a esquecer entretenimentos vãos. (Casimiro sai arrebatado ao mesmo tempo que Mário avança)

MÁRIO – Prova! acabo de vender Hipogrifo. (Confusão de Casimiro)

IRENE – Ah! meu Deus!

BRAZ (A Casimiro) – Contém-te, Mário chegou apenas a poucos momentos, e nada ouviu sobre tuas loucas pretensões... é indispensável que ele as ignore sempre.

CASIMIRO (A Braz) – Mas como está desmoralizada a mocidade! (A Irene) Minha senhora.

IRENE – Sr... Casimiro...

CASIMIRO – Peço perdão...entrei precipitado...

MÁRIO – Foi a mais feliz surpresa, meu pai.

CASIMIRO – Impertinente! sempre desassisado...

MÁRIO – Porque vendi Hipogrifo? dois contos para raiz de fortuna abençoada pelo amor de um anjo.

BRAZ – Adorável estróina, Deus te abençoe.

IRENE – Eu me confundo... e preferiria ir ver as senhoras.

CASIMIRO (A Mário) – Não compreendes que és inconveniente?

MÁRIO – Pois há mal no que disse?... meu pai, amo dª. Irene, ela ama-me; logo nos amamos; eu era um vadio, agora vou trabalhar; prova de juízo, vendo Hipogrifo; o que falta só é que meu pai aprove o que falta.

CASIMIRO (A Braz) – Que lição cruel, malvado!

BRAZ (A Casimiro) – Deixa-te de tingir os cabelos; resigna-te à reforma de namorado et coetera, e sabe ser feliz pela felicidade de teus filhos.

CENA V[editar]

BRAZ, CASIMIRO, IRENE, MÁRIO, VIOLANTE e CLEMÊNCIA

VIOLANTE – Mil agradecimentos, dª. Irene, por ter vindo honrar o nosso jantar, que será o do meu noivado.

IRENE – Renovo-lhe os meus parabéns, minha senhora; e o seu noivado quando será, dª. Clemência?! espero ser convidada.

CLEMÊNCIA – Fiz dois votos: o primeiro para que nós duas tenhamos as nossas bodas no mesmo dia; o segundo, para que a titia assista a elas ainda solteira e sem noivo.

VIOLANTE – Esta pobre invejosa não passa de praguenta amalucada: a minha dita lhe tira o sono e faz delirar; em parte devo desculpá-la: o meu casamento, dª. Irene, foi resolvido pelas linhas tortas com que Deus costuma escrever direito; principiou por brinquedo de aposta, e vai acabar em coisa séria. Ah! se eu lhe contasse toda a história... mas... bem vê que por fim de contas há no nosso sexo certas revoltas do pudor...

IRENE – Oh!... sem dúvida...

BRAZ – E com todas essas revoltas a madrinha casa-se por fim de contas et coetera!

CLEMÊNCIA – Quem sabe? eu hei de ver para crer...

VIOLANTE – O que pretendes é perturbar-me o espírito com temores vãos... ficaste vencida!

CLEMÊNCIA – Confesso; mas espero ficar sem vencedora. (Impaciência de Violante) titia, a que horas devem chegar os seus três pretendentes?

VIOLANTE – Às quatro horas precisas (Consulta o relógio) são apenas três... ainda tenho de esperar um século!

CLEMÊNCIA – E em uma hora transforma-se o mundo. (A Braz) Estou com medo...

BRAZ (A Clemência) – E eu não; confio muito nas misérias humanas.

CENA VI[editar]

BRAZ, CASIMIRO, IRENE, MÁRIO, CLEMÊNCIA, VIOLANTE e um criado, que apresenta em uma salva de prata uma carta a Violante e retira-se

VIOLANTE (A Clemência.) – Vê de quem é essa carta e o que contém.

CLEMÊNCIA (Abre e lê.) – Oh!

CASIMIRO – Que é?

CLEMÊNCIA (Lendo.) – “Minha senhora: cedendo, a meu pesar, a circunstâncias imperiosas, sou obrigado a desistir das minhas pretensões à mão veneranda de v. exa.; se, porém, o destino não me permite ser esposo, serei ao menos sempre de v. exa. o mais humilde criado... dr. Augusto de Melo.”

CASIMIRO – E esta?

VIOLANTE – É falso! Como não sei ler, a maldita invejosa abusa da minha ignorância. (Toma a carta e dá-a a Braz.) Braz, lê tu esta carta por fim de contas.

BRAZ (Depois de ler para si.) – Tal e qual, madrinha! E a letra e a firma são do dr. Augusto. Custa a crer... mas este... foi-se! et coetera.

VIOLANTE (Dissimulando mal.) – Por fim de contas, era esse o que menos me agradava dos três.

CLEMÊNCIA – Ah, titia!...

VIOLANTE (Com força.) – Ainda tenho dois.

CENA VII[editar]

BRAZ, CASIMIRO, IRENE, MÁRIO, CLEMÊNCIA, VIOLANTE e o criado, que apresenta segunda carta a Violante e vai-se.

MÁRIO – Este criado tem cara de correio de más novas.

VIOLANTE (Confusa dá a carta a Braz.) – Lê tu, meu Braz; lê porém direito...

BRAZ (Abre a carta e lê.) – Et coetera!!! “Excelentíssima: tendo empregado três dias em refletir, como v. exa. me ordenou, cheguei à triste convicção de que me cumpre declarar com o mais profundo respeito e dor acerba que dou o dito por não dito, e sou de v. exa. o servo mais dedicado. – Leopoldo Pereira.” Li muito direito: a madrinha quer arquivar a carta? (Apresentando-a.)

VIOLANTE – Deita fora esse papel sujo!

CLEMÊNCIA – A titia deve ter paciência, como eu tive...

VIOLANTE – Não me fales!... ainda me ficou o melhor dos três... por fim de contas o mesmo que eu estava resolvida a preferir... (Senta-se agitada e abana-se forte.)

IRENE – Mas de que modo se explica semelhante procedimento?

VIOLANTE – Juro que são intrigas desta pombinha sem fel! (Mostra Clemência e abana-se muito.) Por fim de contas está fazendo muito calor!...

CENA VIII[editar]

BRAZ, CASIMIRO, IRENE, MÁRIO, CLEMÊNCIA, VIOLANTE e o criado, que apresenta terceira carta a Violante e vai-se.

CASIMIRO – Terceira carta! Será possível que...

VIOLANTE (Vai dar a carta a Braz, e arrepende-se; dá-a a Irene.) – Dª. Irene, a senhora é uma santa...

MÁRIO – Apoiado, titia!

VIOLANTE – Uma santa menina que não me enganará: leia, leia a senhora.

IRENE (Abre a carta e lê para si.) – Ah! É demais! Não ouso...

VIOLANTE – Leia, ainda que seja a minha sentença de morte.

IRENE (Lendo.) – “Excelentíssima senhora: tenho a honra de participar a v. exa. que ontem fiz-me examinar por dois médicos, os quais me declararam com hipertrofia do coração, e condenado ao celibato para viver mais alguns anos que consagrarei ao amor platônico do belo sexo; assim, pois, coagido por força maior e maldizendo da minha hipertrofia, peço mil perdões a v. exa....

VIOLANTE (Arrebata e rasga a carta.) – Basta! Muito obrigada pelo seu favor: por fim de contas... (A Clemência.) foste tu que os endemoninhaste... mas por fim de contas eles são três demônios.

BRAZ – Madrinha, tudo que Deus faz é por melhor; veja que de três harpias escapou; se se casasse com algum deles sabe o que teria de sofrer?...

VIOLANTE (Encolerizada,) – O que?... O que?... O que?...

BRAZ – Teria de sofrer... et coetera, et coetera, madrinha.

CASIMIRO – E ficamos sem noivo para o banquete do noivado!

BRAZ – Menos essa... já temos um... (Mostrando Mário.) e eis aí outro.

CENA IX[editar]

BRAZ, CASIMIRO, IRENE, MÁRIO, CLEMÊNCIA, VIOLANTE, LAURIANO e, logo depois, PORFÍRIO.

LAURIANO – Minhas senhoras! Meus senhores! (Cumprimento.)

IRENE – Vens radioso de alegria...

LAURIANO – Felicitem-me! Acabo de saber que com ótima aprovação nos exames de suficiência, que fiz, estou habilitado para ensinar diversas matérias de instrução secundária e tenho já prévios ajustes para lecionar em quatro colégios: oito horas de trabalho por dia; mas é quase riqueza, e seria riqueza completa (olhando Casimiro e Clemência.) se me fosse dado reparti-la com a escolhida do meu coração...

BRAZ – Et coetera, Casimiro, et coetera! Isso é claríssimo, e cai do céu; não cai do céu dª. Clemência?...

PORFÍRIO (Arrebatado.) – Que é dele?... Que é dele?... Quero abraçá-lo.

CASIMIRO – Quem?

PORFÍRIO – O capitão Jorge de Souza? Que é dele?...

BRAZ (A Clemência.) – Temo-la travada!

CLEMÊNCIA (A Braz.) – Agora pouco importa.

PORFÍRIO – Mas que é do capitão?

CASIMIRO – Estás doido?

VIOLANTE – Que capitão, senhor?... Não sabe que o meu infeliz primo Jorge morreu há dois anos em combate no Paraguai?

PORFÍRIO – Mas ressuscitou: no Paraguai muitas vezes se ressuscita; aqui está a gazetilha do Jornal do Commercio de hoje... (Mostra o jornal.)

VIOLANTE – Ressuscitou! Meu primo!...

PORFÍRIO – Estão cambando?... A gazetilha diz que a notícia é dada pela família; aqui está (Lendo.): “O capitão Jorge de Souza, que todos julgavam morto, escapando ao inimigo que o tinha prisioneiro, apresentou-se aos seus bravos companheiros no mesmo dia da vitória do Campo Largo e chegou ontem a esta corte no transporte de guerra”

VIOLANTE – Meu primo! Meu primo!

PORFÍRIO – Mas é de pasmar! Não os entendo... a gazetilha fala na senhora...

VIOLANTE – Em mim?... Essa é boa! Eu em letra redonda por fim de contas.

PORFÍRIO – Aqui está! Diz, que conforme condição expressa do testamento de seu tio e padrinho, a senhora, sua única e universal herdeira, estava obrigada a entregar toda a herança ao filho, o capitão Jorge de Souza, se em qualquer tempo ele aparecesse vivo...

VIOLANTE – Isso é uma grande mentira; não há tal condição no testamento!

PORFÍRIO – Vamos a melhor!... A gazetilha acrescenta que a senhora ontem mesmo apressou-se a fazer plena entrega da imensa fortuna que herdara, ficando em completa pobreza, mas abençoando generosa a chegada de seu primo. (Violante mede Clemência de alto abaixo.) Explique-me esta embrulhada...

CLEMÊNCIA (Abaixando os olhos.) – A titia perdoe... se a gazetilha não está bem redigida... para outra vez escreverei melhor.

PORFÍRIO – Eu fico às escuras!... Que quer dizer isto?

BRAZ – Foi uma aposta que acabou sem vencedora; pois o vencedor foi somente o dinheiro, que conquistou três miseráveis, logo depois fugidos em debandada ao anúncio da pobreza.

PORFÍRIO – Fiquei na mesma; o Braz quando não diz et coetera é ininteligível.

VIOLANTE (A Braz.) – Meu Braz, vexame até aqui! Por fim de contas não sei onde me esconda!

BRAZ (A Violante.) – Espere, que eu a salvo já. (Alto.) Basta de enganar estes pobres meninos: Clemência e Lauriano, Irene e Mário, tendes sido desde alguns dias objetos do nosso inocente divertimento; aqui não há velha noiva ridícula, nem velho com pretensões anacrônicas: ajoelhai-vos diante da tia benfeitora e do pai extremoso!

MÁRIO e CLEMÊNCIA – Como?... Então?...

BRAZ – Mário, eis as dispensas necessárias para que no fim de oito dias estejas casado com dª. Irene; a assinatura de Casimiro nestes papéis esclarece tudo.

MÁRIO – Meu bom pai!... (Recebe os papéis, e vai com Irene beijar a mão de Casimiro.)

CASIMIRO (A Braz.) – Obrigado, Braz, obrigado. (Aperta-lhe a mão.)

BRAZ – Dª. Clemência, a madrinha nunca pensou em casar-se, quer viver, e vive para seus parentes, e ontem ordenou-me que tivesse pronto para cada um de seus dois sobrinhos um dote de cinqüenta contos de réis.

CLEMÊNCIA – Titia... escuse-me as travessuras... sempre a amei... (Beija-lhe a mão.)

MÁRIO – Com o produto da venda de Hipogrifo, titia, são cinqüenta e dois contos de réis para a minha Irene; não quero porém desigualdades; cedo um conto de réis a Clemência, e beijo-lhe a mão... vem beijá-la também, Irene!...

VIOLANTE (À sobrinha e Irene, que lhe beijam a mão.) – Me deixem!

BRAZ (A Violante.) – Cem contos de réis pela lição, madrinha... e negócio da China; aceite e cale-se.

VIOLANTE (A Braz.) – O que eu merecia era ir para o hospício de Pedro II; aceito e calo-me. (Alto.) E por fim de contas...

BRAZ – Et coetera... et coetera...