Uma Tarde no Cumã

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Aqui minh’alma expande-se, e de amor
Eu sinto transportado o peito meu;
Aqui murmura o vento apaixonado,
Ali sobre uma rocha o mar gemeu.

E sobre a branca areia — mansamente
A onda enfraquecida exausta morre.
Além, na linha azul dos horizontes,
Ligeirinho baixel nas águas corre.

Quanta doce poesia, que me inspira
O mago encanto destas praias nuas
Esta brisa, que afaga os meus cabelos,
Semelha o acento dessas fases tuas.

Aqui se ameigam de meu peito as dores
Menos ardente me goteja o pranto;
Aqui, na lira maviosa e doce
Minha alma trina melodioso canto.

A mente vaga em solidões longínquas,
Pulsa meu peito, e de paixão se exalta;
Delírio vago, sedutor quebranto,
Qual belo íris, meu desejo esmalta.

Vem comigo gozar destas delicias,
Deste amor, que me inspira poesia;
Vem provar-me a ternura de tua alma,
Ao som desta poética harmonia.

Sentirás ao ruído destas águas,
Ao doce suspirar da viração,
Quanto é grato o amor aqui jurado,
Nas ribas deste mar, — na solidão.

Vem comigo gozar um só momento,
Tanta beleza a me inspirar poesia!
Ah! vem provar-me teu singelo amor
Ao som das vagas, no cair do dia.