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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/103

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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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regado do serviço subiu ao escritorio em que ambos trabalhavam. Só encontrou o Andrada e dele tomou os apontamentos necessários. Quando voltava, encontrou o preto, na porta terrea, dispondo-se a subir. O recenseador explicou-lhe ao que vinha, informando-o de que o procurara no escritório, e pediu the fizesse o obsequio de lhe fornecer os dados ali mesmo. Gama não se recusou e foi respondendo a todas as perguntas do formulário. Quando chegou á pergunta da côr, o advogado dos escravos indagou:

— Que côr o Antonio Carlos registrou?

— Branca, respondeu o funcionario.

— Branca? — espantou-se comicamente Luiz Gama. — Pois, si aquilo é branco... ponha branco tambem para mim.

E nessa estatística, o advogado negro figura como “caucásico”.

Ora, um homem, com essa disposição de espírito, não se pouparia a si mesmo, no assunto, nem pouparia aos outros. E as “Trovas Burlescas” estão cheias de chistes e pontas, em que o primeiro zurzido é ele mesmo:

«Quero que o mundo me encarando veja
um retumbante «Orfeu de carapinha»,
que a lira desprezando, por mesquinha,
ao som descanta de marimba augusta».

E na comemoração poetica a que se vai lançar, pelo livro inteiro, celebrando os casos e homens e cousas notaveis de seu tempo: