À estátua eqüestre

Wikisource, a biblioteca livre

Ergue-te ousado sobre o chão da praça,
Homem de bronze, — imagem de monarca,
Simulacro fatal!
Pisa inda as turbas humilhadas, como
As duras patas do corcel que montas
O chão do pedestal.

Cansadas nunca de opressores ferros,
Livres de um jugo,— de outro jugo escravas,
As massas enervadas
Do pó resgatam seus tiranos mortos,
E à luz do sol inundam de louvores,
Por terra debruçadas!

Raça de Ilotas, que fizestes pois
Da férvida centelha que no seio
Vos pos a Divindade?
Porque reledes o passado escuro,
Quando deveras derribar os tronos
Cantando a liberdade?

Vota-se à treva o busto dos Andradas,
Some-se a glória de ferventes mártires
Na lama do ervaçal!
Mas fria a estátua pisa a turba, como
As duras patas do corcel de bronze
O chão do pedestal!


Oh terra do Brasil; — diamante vívido
Da coroa soberba de Colombo,
— Bela estrela do sul, —
Porque tão cedo declinais a fronte
E a fímbria do vestido enegreceis
No limo do paul?

Porque tão cedo enregelais o seio
Nessas frias geadas que predizem
A morte das nações,
E os pulsos presos, e a vontade escrava,
Do mártir a memória e a voz dos bardos
Cobris de maldições?

Erguei-vos desse lívido marasmo,
Afrontai o negrume das tormentas,
O horror da tirania!
Se agora em bronze eternizais — senhores, —
Gravai nos bronzes o brasão dos livres,
Saudai um novo dia!

Embora o mundo me proclame louco,
Embora à fronte com furor me gravem
Estigma infernal!
Não posso calmo ver pisar-se as turbas,
Como o corcel de levantada estátua
O chão do pedestal!