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A Ópera

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Os dois grandes olhos acesos na escuridão, berrando soturnamente como um formidável animal pré-histórico, o "landaulet" roda com lentidão pela rua solitária. Molhada, refletindo as lâmpadas da iluminação abundante, o asfalto estala sob os pneumáticos, atirando para um lado e outro partículas de água, uma estranha pedraria, que logo, se desfaz pelo chão.

Ao fim de meia hora de marcha pausada, estaca em frente a um portão, que se abre de par em par, como as mandíbulas de um dragão monstruoso. O carro penetra no jardim, o portão fecha-se sobre ele e, em breve, saltam do "landaulet", embrulhados, — ela, num luxuoso "manteau" azul e ouro, ele, na sua capa de gola de veludo, — o marquês e a marquesa de São Rafael.

Em cima, vai a moça pouco a pouco se desfazendo do vestuário. Após o "manteau" que ficou em baixo, rolam para o divã largo, repleto de almofadas festivas, o vestido, a cinta, a combinação, o "soutien-gorge". As jóias, uma a uma, vão saindo dos seus dedos, das suas orelhas, do seu colo, dos seus cabelos, como insetos que abandonassem uma rosa. Livre da opressão em que estivera durante horas, um biquinho de rubi espia, satisfeito, por um buraco do crivo da camiseta de linho... As mãos, libertas da luva, amparam, numa carícia, os dois pombinhos separados. E acaricia-os ainda, quando, amarrando os cordões do seu pijama de seda, o marquês penetra no quarto.

— Gostaste da ópera? — indaga, torcendo o comutador, que apaga uma das duas lâmpadas do teto.

— A ópera é como o amor, — objeta a marquesa, estendendo-se no leito vasto e puxando para o peito a onda clara do lençol.

E enquanto se apaga a outra lâmpada:

— Volta-se satisfeita, mas torna-se no outro dia...