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A Batalha de Oliveiros com Ferrabraz

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BATALHA DE OLIVEIROS COM FERRABRAZ
 

Eram doze cavalleiros
Homens muito valorosos,
Destimidos, animosos,
Entre todos os guerreiros,
Como bem fosse, Oliveiros
Um dos pares de fiança
Que sua perseverança
Venceu todos infiés,
Foram doze leões cruéis
Os doze pares de França.

Todos eram conhecidos
Pelos leões da igreja,
Pois nunca foram á peleja
Que nella fossem vencidos,
Eram por turcos temidos,
Pela igreja estimados
Porque quando estavam armados
Suas espadas luziam,
E os inimigos diziam:
— Esses são endiabrados.


Tinha o duque de Nemé
Que era uma espada medonha,
O grande Guy de Borgonha
Geraldo de Monde Fé.
Carlos Magno tinha fé
Em todos seus cavalleiros,
Pois entre todos guerreiros
De que nos trata a historia,
Vê-se sempre a maior gloria
De Roldão e Oliveiros.

O almirante Balão
Tinha um filho—o Ferrabraz.
Que entre os turcos, era o mais
Que tinha disposição
Mesmo em nobreza de acção
Era o maior que havia
Então em toda Turquia
Onde se ouvia fallar,
Tudo tinha de respeitar
Ferrabraz de Alexandria.

Foi Ferrabraz procurar
Sahiu com uma grande tropa
Vê se achava na Europa
Um rei para pelejar,
Pegou logo exclamar
Com mais precipitação,
Fazendo uma exclamação,
Insultando os cavalleiros,
Fallando contra Oliveiros
Fazendo accinte a Roldão.

Quando Ferrabraz chegou
Nos campos de Mormionda,
Só um trovão quando estronda
Trôa como elle troou,
Em altas vozes gritou
Apoiado em uma lança,
Como uma féra que avança
Precipitada em furor
Dizia oh! imperador
Que dê teus pares de França?

Estás poupando teus guerreiros
Que nem um vem pelejar?
Para que queres guardar
Esses doze, cavalleiros?
Ouço dizer que Oliveiros
Tem tanta disposição,
E’ propria a occasião,
Se tem fé em teus guerreiros
Porque não manda Oliveiros?
Para que queres Roldão?


Ninguem ahi respondeu
E Ferrabraz se apeiou,
Numa sombra se assentou
Em vozes altas rompeu,
Carlos Magno se escondeu?
Ou está hoje sem acção?
Os pares onde é que estão?
Não ouço nenhum fallar,
Já não possa acreditar
Nas façanhas de Roldão.

Sahirei daqui dizendo:
—Carlos Magno se escondeu
Roldão não me appareceu
Talvez ficasse tremendo…
Estou só, como está se vendo
Elles são doze guerreiros
Como doze cavalleiros?
Não dão batallia a um só
Ou estão tornados em pó
Roldão, Ricardo, Oliveiros.

Eu sosinho nesta campanha
Contra um exercito francez,
Em matal-o de uma vez,
Não digo que isto é façanha.
Um exercito não me ganha,
Ainda eu mesmo doente.
Como é que existe gente
Que se atreve a exaltar
E pelo mundo espalhar
Que Carlos Magno é valente?

Carlos Magno perguntou
Quem tanto o insultava,
Quem tão rebelde fallava.
Ricardo ahi lhe explicou
Lhe disse esse que chegou,
E’ um grande da Turquia,
Turco de muita energia,
Impera sobre seu throno.
E’ o legitimo dono
Do reino de Alexandria.

Aquelle foi o que entrou
Dentro de Jerusalém
Não respeitando ninguem
Até apostolos matou.
No templo sagrado achou
Balsamo que Deus foi ungido
Cousas que tinham servido
Na paixão do Redemptor,
A corôa do Senhor
Tudo foi subtraido.


Carlos Magno observou
Que nem um se offereceu,
Logo ahi entristeceu
Chamou Roldão e o mandou.
Disse Roldão—eu não vou
Nem eu, nem meus companheiros
Nos combates derradeiros
Nós exgottamos os valores,
Quem foram merecedores
Foram os velhos cavalleiros.

Nessa ultima batalha
Sanguinolenta e tyranna,
Minha espada durindana
Não mostrou uma só falha,
Daquella bruta canalha
Arrebatei a victoria,
Me ficará de memoria
Aquelles grandes perigos
Os cavalleiros antigos
Foi a quem désses a gloria.

Carlos Magno quando ouviu
A resposta de Roldão
Se encheu de tanta paixão
Que um ferro lhe sacudiu.
Roldão quando olhou que viu
O sangue delle descer,
Não poude mais se conter,
Armou-se com tal furor
Que não foi ao imperador
Por Ricardo se interver.

Carlos Magno ordenou
Que os pares o pegasse,
Depois de preso o matasse.
Roldão de novo se armou
Pela espada puchou
E disse em alta linguagem
Com destemida coragem,
Fallou a todos assim:
—Qualquer que tocar em mim
Diga que está de viagenn.

Tudo alli ficou callado
Não fallou um cavalheiro
Roldão era o companheiro
Dentre todos mais amado,
De mais era respeitado
Pela nobreza e acção,
Tinha um leal coração
Para com seus companheiros
E mesmo dos cavalheiros
Era elle o capitão.


Carlos Magno ficou
Certo de que ninguem ia
Disse que mesmo queria
Ver quem o desafiou;
Quando a noticia chegou
Aos ouvidos de Oliveiros
Que soube que os cavalleiros
Não tinham lhe obedecido,
Ficou bastante sentido
Desta acção dos companheiros.

Ordenou ao escudeiro
O cavallo lhe sellar
E mandou logo apromptar
Arreios de cavalleiros…
E gritou—ande ligeiro,
Me ajude logo a armar,
Pode o turco se gabar,
Matei um dos cavalleiros.
Porem não diz Oliveiros
Temeu commigo luctar.

Assim que Guarim sentiu
Seu senhor fallar em guerra,
Pôz os joelhos em terra
Até por Deus lhe pediu,
Porque imaginou e viu
Que elle não estava capaz,
Porque já era demais
O sangue que sahia,
Por isso por Deus pedia
Que não fosse a Ferrabraz.

Guarim, podes descançar,
—Oliveiros respondeu.
Um soldado como eu
Não deixa seu rei chorar,
O turco ha de acreditar
Que mil féras não me comem
Minhas façanhas se somem
Mas emquanto eu não morrer
Ferrabraz ha de dizer
Em França encontrei um homem.

Quando do leito se ergueu
Pôz uma perna estendida,
Logo ahi de uma ferida
Porção de sangue desceu,
O escudeiro tremeu
Assim que o sangue espanou
E elle não se importou
Como que tivesse são,
Fincou a lança no chão
E de um só pullo montou.


E foi ao imperador
Com a maior reverencia.
Disse com obediencia
—Esclarecidos senhores,
Eu não sou merecedor
Que cousa alguma me dê
Por isso, senhor, bem vê
Que valor tem seu captivo
Por 10 annos que te sirvo
Vim pedir-te uma mercê…

Disse-lhe o imperador:
—Pode Oliveiros dizer
Eu juro o satisfazer
Seja que pedido fôr.
Disse-lhe Oliveiros: Senhor!
Não quero cousa de mais,
Eu não serei tão capaz
Para tanto te pedir
Porem, o que quero é ir
Dar batalha a Ferrabraz.

Carlos Magno quiz faltar
Devido ao seu máo estado,
Porem já tinha ordenado
Não podia revogar.
Viu Oliveiros montar
E muito sangue sahir
Rogou-o para não ir…
Disse Oliveiros: irei
Se desfeitiando meu rei
De que me serve existir?

Não posso aqui declarar
O que era de mistér
Como ficou Regner
Vendo Oliveiros montar,
Ficou a se lastimar
Vendo os outros cavalleiros,
Elle com mil desesperos
Prostrado em terra se lança
Perdeu a ultima esperança
—De ver seu filho Oliveiros.

Regner eu não mandei
Disse-lhe o imperador
Seu filho é merecedor
E nada lhe negarei
E elle pediu-me: eu pensei
Que elle quisesse era a paz
Vejo-o doente de mais
Jurei dar-lhe o que pedia
E elle disse que queria
Ir enfrentar Ferrabraz.


E Oliveiros partiu
Do meio daquelle auditorio
Carlos Magno ao oratorio
Chorando se dirigiu
Se ajoelhando pediu
A imagem de Jesus
Pelos martyrios da Cruz
Olhasse seus cavalleiros
E que guiasse Oliveiros
Com sua divina luz.

Dizendo elle foi luctar
Com o guerreiro mais forte
Noticiando sua morte
Ja me parece chegar
Se vós o não ajudar
Não tornarei vel-o mais
Muitas feridas mortaes
Se vós não o acudir
Elle tem que succumbir
Nas armas de Ferrabraz.

Antes delle terminar
A oração que fazia
Ja uma vóz lhe dizia
Que podia descançar
Que havia de voltar
O seu cavalleiro em paz
E não se afligisse mais
Cresse na Virgem Maria
Que Oliveiros havia
Morto ou preso Ferrabraz.

O turco chegou cançado
Deitou-se p’ra discançar
Viu Oliveiros chegar
Ficou mesmo alli deitado
Não se mostrou agitado
Olhou para Oliveiros
Pensou não ser dos guerreiros
Dos 12 pares de França
Perdeu a ultima esperança,
De ver um dos cavalleiros.

Oliveiros o saudou
E elle ficou callado
E Oliveiros bem maçado
Da acção do turco ficou
Ferrabraz nem o olhou
Tanto caso delle fez
Oliveiros éra francez
Guerreiro de educação
Juntou as redias na mão
Fallou-lhe a segunda vez.


Levante-se, cavalleiro.
Prepare as armas se aprompte
Pegue o cavallo, se monte,
Trate de ser bom guerreiro
Ponha seu corpo ligeiro
Veja se não dê uma falha.
A morte entre nós se espalha,
A hora de um é chegada
Lance mão de sua espada,
Vamos entrar em batalha.

Quem és tú, tão pequenino
que vem me desafiar?
Achas que vou me occupar
Em dar batalha a menino?
E’s louco, tu não tens tino,
Disse o turco com furor.
Seja por qual forma fôr,
Me diga agora, confesse,
Qual foi o mal que fizeste
Contra teu imperador?

Disse Oliveiros zangado:
Venha pelejar commigo,
Perante ao inimigo,
E’ ser vil pôr-se deitado
Devia ser delicado
Lhe reflictio Oliveiros
Na ordem dos cavalleiros
Encontra-se a educação,
Por isso não é acção
Nem nobreza dos guerreiros.

O turco disse afinal:
Oh! cavalleiro, lhe digo,
Só pode luctar commigo
Se fôr de sangue real,
Porque se não fôr igual
Recusarei a empreza
Fallou com toda franqueza…
Então Oliveiros disse:
Pode crêr como que visse
Minha origem é de nobreza.

Ferrabraz lhe esclareceu:
Teu nome has de me dizer.
Primeiro eu hei de saber.
Disse Oliveiros: do teu
Disse Ferrabraz: o meu
O direi sem mais porfia,
Pois minha soberania
Não exige cousas taes,
Eu me chamo Ferrabraz,
Sou o rei de Alexandria.


Eu sou Guarim de Lorenda.
Oliveiros respondeu
Hoje foi que succedeu
Dar a primeira contenda.
E lhe digo que se renda
Que o lavarei com amor,
Fique sabendo o senhor
Hoje não pode escapar
Eu hoje tenho de o levar
Preso ou morto ao meu senhor.

O turco disse-lhe assim:
Teu rei é muito malvado
Pois pega um pobre soldado
Sem causa quer dar-lhe fim.
Porque em tu vires a mim
E’ ser muito louco ou bôbo,
E’ como fazer um roubo
A quem não possue dinheiro,
E’ atirar um cordeiro
Dentro da jaula de um lôbo.

Oliveiros já massado
Disse-lhe: turco és um louco…
Levanta-te, senão com pouco
Hei de feril-o deitado.
Que tempo tem se passado!
Nessas tuas discussões
Eu não vim ouvir razões
Vim ao campo pelejar,
Tu és franco no fallar
Vamos vêr tuas acções.

Ferrabraz sem se alterar
Lhe disse: espera Guarim,
Peço que digas a mim
O que vou te perguntar.
Então pôz-se a indagar
Com a falla muito mansa
Como quem pensa e descança.
Perguntou a Oliveiros:
—Como são os cavalleiros
Que formam os pares de França?

Oliveiros disse assim:
Roldão tem bôa estatura
Oliveiros na figura
E’ mesmo que vêr a mim,
Guy de Borgonha, Bofim,
Ricardo são quasi iguaes,
Pegou n’um, é um voraz,
Porem emquanto a Roldão
Em coragem e coração
O mundo não terá mais.


Disse Ferrabraz: então
Porque desses cavalleiros
Não veio a mim o Oliveiros
Guy de Borgonha ou Roldão?
Disse Oliveiros: isso não
Oliveiros está doente
Bofim tambem anda auzente,
Guy de Borgonha ficou,
Roldão nunca se occupou
Brigar com um turco somente.

Guarim tu tens me mentido
Disse que és novo guerreiro.
E’s antigo cavalleiro
Tanto que tu estás ferido.
Mais Oliveiros fingindo
Disse: esse sangue é d’agora
Eu estou são; porem embora
Tenha na junta algum callo,
O sangue é de meu cavallo
Que é muito duro de espora.

Depois de se levantar
Ferrabraz se preparou,
A Oliveiros rogou
Que o ajudasse a armar.
Oliveiros quiz faltar
Por achar que era um perigo.
Disse Ferrabraz: lhe digo
Confie em minha nobreza,
Eu não uzo da vileza
Para com meu inimigo.

Oliveiros se apeiou
Ajudou a Ferrabraz,
Com cortezias iguaes
Elle tambem o tratou.
Quando Ferrabraz se armou
Vestiu a saia de malha
Na qual não tinha uma falha
Feita por outros guerreiros,
Montaram-se os cavalleiros
Deram começo a batalha

Posto sem ordem prosseguiram
A lucta em estreitos passos,
Das grossas lanças os pedaços
De ambos ao longe cahiram,
Ambos logo se serviram
De duas finas espadas
Cortantes, grandes e pesadas
Que era uso dos guerreiros
Das feridas de Oliveiros
Foram tres as magoadas.


Disse Ferrabraz: Guarim,
Pela crença dos fieis
Confesses logo quem és,
Não sejas fingido assim.
Creio que mentisses a mim
Tu és um dos cavalleiros
Daquelles grandes guerreiros
Que a fama está espalhada,
Pelo pegar da espada
E’s Roldão, ou Oliveiros.

Eu não dei só um combate
Conquistei todo esse mundo
Conheço o guerreiro a fundo
Sou professor desta arte
E assim quero tratar-te
Com mais apreciação
Pela sagrada paixão
De quem são crentes os fieis
Declares logo quem és
Ou Roldão ou Oliveiros.

Pois nunca achei quem pegasse
Tão bem assim n’uma lança
Só num dos pares de França
Pode tão destro encontrasse
Juro que tu me negasse
Sendo grande não descobre
Finje ser soldado pobre
Teus feitos estão indicando
Tuas acções estão mostrando
Que és cavalleiro nobre.

Disse a hoste dos guerreiros
Oh! turco tu me forçasse
E agora me obrigasse
A diser sou Oliveiros
Eu sou um dos cavalleiros
Conquistei muitos lugares
Ouvi tu disafiares
Meu rei para pelejar
Por isso venho provar
Que peso tem um dos pares.

Disse o turco oh! cavalleiro
Obrasse mal não diser
Para eu te receber
Como um fidalgo guerreiro
Pois vejo que fui grosseiro
E me confesso sentido
Pois se tivesse sabido
Teria me levantado
E com outro frasiado
Eu teria o recebido.


Ahi tornaram a partir
Em ordem de cavalleiros.
Disse o turco a Oliveiros
—Não posso mais te ferir;
Vejo teu sangue sahir
Devido estares estragado;
Eu tenho o balsamo sagrado
Com que teu Deus foi ungido,
Bebe-o porque estás ferido,
Bebendo ficas curado.

Turco eu não hei de acceitar
Cousa alguma que me deres,
Salvo se tu quizeres
Crêr em Deus e se baptisar
Do contrario é se cançar
Porque não acceito nada,
Estou com a vida arriscada,
Sei do poder que tem elle
Porem só me sirvo delle
Tomando-o pela espada.

Ahi ambos prevenidos
Não escutaram razões,
Pareciam dois leões
Numa jaula enfurecidos.
Dous golpes iguaes medidos
Todos dous descarregaram,
Com a força que botaram
Os braços ficaram bambos
E os cavallos de ambos
Em terra se ajoelharam.

Oliveiros recebeu
Um golpe tão desmarcado
Que ficou atordoado
E muito sangue desceu.
O turco ahi conheceu
Delle as forças abatidas
Com vozes compadecidas
Disse Oliveiros teimoso,
Bebe o balsamo milagroso
Que te cura essas feridas.

Ferrabraz, eu nada acceito
Assim não deves cansar-te,
Confesso de minha parte
Que toda offerta regeito.
Porque eu não me aproveito
D’uma acção acobardada
Por uma protecção dada
Pois que prefiro morrer
Que do teu balsamo beber
Sem o tomar pela espada.


Beijou a cruz da espada
Proseguio uma oração!
Oh! Virgem da Conceição!
Maria pia e sagrada,
Mãe de Deus immaculada,
Esposa casta e fiel!
Pelo vinagre com fel
Que Christo bebeu na Cruz,
Rogae por mim a Jesus,
Nessa batalha cruel.

Partiu ao seu contendor
Com tanta disposição
Que só se tivesse são
Teria tanto valor.
Deu-lhe um golpe matador
Porem pegou mal pegado,
Feriu o turco de um lado
Ferrabraz se desviou
Tirando o balsamo o tomou
Ficou de tudo curado.

Oliveiros entristeceu
Quando viu Ferrabraz são,
E disse no coração
Quem perde a lucta sou eu…
Porem não esmoreceu
Nem deu mostração de falha
Como o homem que trabalha
Disse sem poder conter-se,
Falta pouco para ver-se
O fim de nossa batalha.

Disse o turco—cavalleiro.
Tu já estás muito ferido.
Queira acceitar meu partido
Renda-se prisioneiro,
Assim lhe farei herdeiro
Do reino de Alexandria,
E tem mais a garantia
De hoje para amanhã,
Casarás com minha irmã,
A flor de toda Turquia.

Disse Oliveiros: —Senhor
Eu não prefiro riqueza,
Quero morrer na pobreza
Mas bem com meu salvador…
Porque foi meu creador
E por minh’alma trabalha,
Um estante não se empalha
Para valer os fieis,
Turco, cuida em teus papeis,
Vamos dar fim a batalha.


Cobriu-se com seu escudo
Beijou a cruz da espada,
E deu-lhe uma cutilada
Que desceu arnéis e tudo.
E dando outra a miudo,
A Ferrabraz offendeu
O céo o favoreceu
Um revez escapoliu
O balsamo delle cahiu
E Oliveiros bebeu.

Ferrabraz admirado
Por ver tanta ligeireza,
E vêr aquella destreza
Em quem já estava cançado,
Viu Oliveiros curado
De todas suas feridas
As forças restituidas
Estava tão renitente
Que parecia-lhe um ente
Com quinze ou dezeseis vidas.

Depois de ter apanhado
O balsamo que lhe serviu,
Dentro do rio saccudio
O que ainda tinha ficado.
Ferrabraz ficou massado
Por Oliveiros botar
O que não podia achar
Ainda a peso de ouro,
Do mundo todo thesouro
Não poderia comparar.

Oliveiros respondeu:
Ferrabraz fique sabendo
Que a tudo Deus está vendo
Pois o mundo todo é seu,
Um guerreiro como eu
Não vae atraz de cilada
Com Deus não me falta nada
Me bastam os prodigios seus
Não quero mais do que Deus
Uma lança e uma espada.

E tornou a investir
Que só um leão voraz.
E disse: Senhor Ferrabraz
E’ tempo de decidir,
Só se ouvia era tinir
As espadas pelo ar.
Roldão que estava a olhar
De vez em quando dizia:
Oliveiros eu queria
Estar agora em teu lugar.


Já tinha se espedaçado
Arnéis, capacête e tudo,
Não tinha mais um escudo
Que não tivesse quebrado.
As lanças tinham voado
Só as viseiras existiam
Elles já mal se cobriam
Nas horriveis cutiladas.
Somente as duas espadas
Sem damno algum resistiam.

Oliveiros se preparou
E partiu ao inimigo…
O turco vio o perigo
A pé firme o esperou,
Um golpe nelle deitou
Com tanta disposição
Sem ser proposito ou traição
Nesses golpes tão ligeiros,
O cavallo de Oliveiros
Cahiu sem vida no chão.

Turco tu estás bem montado
E meu cavallo morreu.
Ferrabraz lhe respondeu:
Mas eu não fui o culpado.
Não ficarás desarmado
Que eu sei a ordem qual é
Não desanimes na fé
Eu fui quem matei o teu,
Agora monte no meu
E vou pelejar de pé.

Disse-lhe Oliveiros: não
Fico tambem desmontado
Tu não fosse o culpado
Assim era ser vilão.
Por certo eu tinha razão
Porque matasse o meu,
Foi caso que aconteceu
Era-me feio acceital-o.
Não brigo só a cavallo
Podes descançar o teu.

Ahi Ferrabraz atou
Num arvoredo o cavallo
E disse vou descançal-o
Sua occasião chegou,
Para a batalha marchou
Com toda disposição.
Oliveiros forte e são
Esperava-o cara a cara,
Com a espada Alta Clara
Rugindo que só leão.


Eu agora me lembrei
Da falta que commetti,
Mas foi porque me esqueci,
Por isso não relatei.
Porem sempre fallarei
Para o leitor se agradar,
Quem sabe ha de se lembrar
Na lucta dos cavalleiros,
O cavallo de Oliveiros
Quando quiz desembestar.

Com a grande cutilada
Que Oliveiros recebeu,
Quando o cavallo correu
Não obedecendo a nada,
Sahiu numa desfilada.
Mas o turco o atalhou
Oliveiros até pensou
Que fosse alguma tragedia,
O turco pegou na redia
E o cavallo parou.

Outra parte que dizia
Quando o cavallo do turco,
Foi voal-o num cavuco
Ferrabraz quasi morria.
Oliveiros com energia
Chegou nessa mesma hora,
Apeiou-se sem demora
Que só sendo dous irmãos,
Pegou elle pela mão
E botou Ferrabraz fóra.

E tornaram a se bater
Os ferozes cavalleiros,
O turco com Oliveiros,
Ninguem podia entender,
Nada se ouvia dizer
No jogo das cutiladas.
As armas espedaçadas,
Com esse pesado jogo
De longe via-se o fogo
Que sahia das espadas.

Podes gabar-te Oliveiros
Disse o turco admirado:
—Olhe que tenho luctado
Com mais de mil cavalleiros,
Entre todos os guerreiros
Não houve quem me ferisse
Nem quem tanto resistisse
Os golpes de minha espada,
Ella por outra assignada
Nunca houve quem a visse.


Disse Oliveiros: então
Tua espada não quebrasse
E’ porque não encontrasse
Com a espada de Roldão.
Elle com ella na mão
Nunca encontrou ferro duro,
Nem arnez de aço puro
Que seus golpes resistisse,
Nem metal que não rangisse.
Nem cavalleiro seguro.

E cobriu-se com uma parte
Do escudo que ficou
Com todo orgulho gritou,
Vamos dar fim ao combate.
A nós não ha quem aparte
Disto já estou convencido,
Haja o que Deus fôr servido.
Onde ha campos e espadas,
As razões são escusadas,
Conversa é tempo perdido.

E partiu determinado
A Ferrabraz degollar,
Mas não poude aproveitar
O golpe descarregado.
O turco pullou de um lado,
Um golpe nelle mediu.
Quando Oliveiros sentiu
O braço lhe estremeceu,
Do golpe que recebeu
A sua espada cahiu.

Assim mesmo inda pegou-a,
Mas tinha o braço dormente.
O turco rapidamente
Partiu a ella, apanhou-a,
Pegou nella, examinou-a,
Ficou muito admirado
E disse enthusiasmado.
—Oliveiros estás vencido,
Isso ahi está decidido,
Porque estás desarmado.

Porem pega tua espada
Não quero vencer-te assim,
Mesmo quero ver o fim
Dessa batalha encantada,
Pois que está tão dilatada
Que já estou mal satisfeito.
Respondeu-lhe só—acceito
Por minhas armas tomadas,
Mas eu acceital-a dada!
Faz-me perder o conceito.


Alli no chão apanhou
Um pedaço de um escudo
Disse deste eu faço tudo
E com aquillo se armou
O inimigo esperou
Com esse ferro que tinha
Disse quando o turco vinha
Com Deus não me falta nada
Hoje eu tomo uma espada
Ou a do turco ou a minha.

Oliveiros viu então
Que a sella de Ferrabraz.
Estava munida de mais
Com espadas no arção,
Com toda disposição
Que só quem não tem juizo.
Partiu ao turco indeciso
Sem temeridade alguma,
Puxou pelo cabo uma
Que se chamava baptiso.

Agora sim, estou armado,
Disse elle a Ferrabraz.
Nas armas estamos iguaes
Nenhum ficará massado.
Cada qual zele seu lado
Que a batalha vai findar.
E’ tempo de aproveitar
A força, a coragem, o jogo,
A batalha é ferro e fogo
Seja feliz quem ganhar.

Haja tempo, o ferro trôa
Com golpes tão destemidos,
Das espadas os tenidos
Só um trovão quando sôa
Que o estampido rebôa
Por vãos de serra e quebradas,
Como bombas disparadas
Raios de fogo subiam.
Grossas faiscas sahiam
Daquellas duas espadas.

Ferrabraz a resistir
Estava com tanta paixão,
Oliveiros só leão
Quando alguem quer o ferir,
Disse—vamos decidir
Esta batalha comprida.
A causa está conhecida,
Um de nós hoje aqui erra,
E nesse campo de guerra
Um ha de deixar a vida.


Oliveiros ahi se ergueu
Marcou-lhe a cabeça ao meio
Que foi o golpe mais feio
Que um cavalleiro já deu.
Ferrabraz estremeceu
E quasi perde o sentido,
Ficando muito abatido.
Já com os golpes primeiros
Disse comsigo Oliveiros:
—Esse está quasi vencido.

E tornou a repetir
Outro golpe desmarcado,
O turco muito cançado
Quasi o golpe o faz cahir,
Não podendo resistir
O golpe não respondeu,
Oliveiros conheceu
A falta de ligeireza,
Mas viu que aquella fraqueza
Não era defeito seu.

Disse Oliveiros comsigo,
Meu Deus—se vós concedesse
Que esse turco conhecesse
Que é feliz viver comtigo,
Livraria-o do perigo
De su’alma se perder,
O céo tinha de colher
Uma alma quasi perdida
Que depois de arrependida
Podia se converter.

E vós oh! virgem Maria
Mãe dos tristes peccadores
Concedei vossos favores
Nestas horas de agonia
Por aquelle grande dia
Da paixão do Redemptor
Por aquella horrivel dor
De teu amado Jesus
Pelos martyrios da cruz.
Pelo frio pelo calor.

Tocai este coração
Para tornares fiel
Conheça um Deus de Israel
Como autor da criação
Que não perca a salvação
Que ao vosso filho custou
Pois seu sangue derramou
Sobre um madeiro pregado
Fazei que esse desgraçado
Seja de vós como eu sou.


Vós sois a gloria da terra
Do perdido a esperança
Sois vós a unica herança
Do perigrino que erra
E’s o triumpho da guerra
O balsamo que cura a dor
Alivio de sofredor
Com quem tudo se aconselha
Quem apascenta a ovelha
Perdida de seu pastor.

Isso Oliveiros dizia
Luctando com Ferrabraz
Viu que já éra de mais
O sangue que lhe sahia
Com muito amor lhe pedia
Ferrabraz estás tão ferido
E’s um homem destimido
Busca a Deus elle te acode
Deus é muito bom e póde
Te fazer seu protegido.

Oliveiros os rogos teus
Me enchem de sympathia
Mais o rei de Alexandria
Não á de adorar teu Deus
Não rogo mais nem os meus
Hoje a miseria me cobre
Sou como o Soldado pobre
Que não tenho a favor nada
Sou morto por uma espada
Que me parece a mais nobre.

Já de Ferrabraz a vida
Se divulgava num sopro,
Cada parte de seu corpo
Tinha uma mortal ferida.
A força muito abatida
Elle de todo mudado
Pallido e ensanguentado
Oliveiros viu com calma
Que o turco só tinha a alma,
O corpo estava acabado.

Jesus, Filho do Eterno,
Exemplo da Redempção,
Livrai a este pagão
Do abysmo do inferno,
Dai-lhe um desejo moderno,
Um intuito que o avise
Nessa miseravel crise,
Dai-lhe isso como prenda,
Que de tudo se arrependa
Creia em vós e se baptise.


Já estava Ferrabraz
Muito rendido ao cansaço,
Já o seu esquerdo braço
Não o podia erguer mais,
Porque não era capaz
De resistir mais uma hora
E Oliveiros por fóra
Conheceu-lhe a gravidade,
Com toda amabilidade
Disse—Ferrabraz, agora.

Quero que fique sabendo
Que existe um Deus que nos cria,
Sua força e energia
E como aqui tu estás vendo,
Vim aqui quasi morrendo,
Todo chagado e ferido
De um combate que tinha tido
Pela fé de Jesus Christo
Elle conhecendo isto
Valeu e estou garantido.

Se tu chegasse a crer
Na Santissima Trindade,
No Poderoso Deus Padre,
Havias de conhecer
Que ao mundo rege um poder
De grande sabedoria,
Que a tudo alimenta e cria,
Fez o ceu, a terra, o mar,
E é mais puro que o ar
Mais claro que o proprio dia.

Esse um dia descerá
Ao mundo das illusões,
E todas nossas acções
Como juiz julgará
E como te salvará?
Tu sem lei, sem confiança,
Sem ter nelle uma esperança
Vás ao dia de juizo?
Então perde o paraizo
Esta grande e rica herança?

Deixe estes idolos que adora,
Creia na Virgem Maria,
Creia que um Deus nos cria
Julga tudo em uma hora,
Bote estas illusões fóra,
Que o demonio não lhe pise
Peça a Jesus que o avise,
Abrace a religião
Peça das culpas perdão
Creia em Deus e se baptise.


Disse o turco—cavalleiro,
Isso eu não hei de fazer
Sujeitarei-me morrer
No campo do desespero.
Tenho os louros de um guerreiro!
Brazão, honra, assim por deante,
Ainda que vá avante,
Isto assim nunca farei,
Não deixo a lei que adoptei
Por dez montes de brilhante.

Dizendo—Apollim me valha!
Se levantando cançado,
Inda dizia animado:
—Vamos dar fim a batalha!
A morte jamais me empalha,
A vida é como um segredo,
O mundo um cruél degredo
Onde um mysterio se encerra,
Golpe de espada na guerra
Jamais me metterá mêdo.

Oliveiros pôde ver
Quando estavam descançando,
Que elle estava desmaiando
E se arriscava a morrer.
Jamais podia viver
Devido ao seu mau estado.
Muitas feridas de lado
Era enorme a sangueira,
Das armas só a vizeira
Apenas tinha ficado.

Ainda se levantou,
Disse:—Sr. Oliveiros,
Esses são os derradeiros
Golpes que em guerra dou.
Oliveiros o esperou,
Mas não queria o matar;
Seu desejo era o salvar,
Não desejava mais nada
Pôz no réto sua espada
Apenas para constar.

Assim que Ferrabraz viu
Se ultimando sua vida,
Pôz a mão sobre a ferida
A Oliveiros pedio
Julga-se que o turco sentiu
Uma emoção tanto ou quanto
Que disparou nesse pranto
Sentindo e tão maguado,
Como se fosse tocado
Do Divino Espirito Santo.


—Nobre e grande cavalleiro!
Disse o turco arrependido,
Agora estou convencido
Que teu Deus é verdadeiro,
Grande, bom e justiceiro
Ente de grande mistér,
Faz tudo quanto quizer
Só elle tem heroismo
Te peço dai-me o baptismo
Depois faça o que quizer.

Oliveiros quando acabou
De ouvir o que elle dizia
Ficou com tanta alegria
Que de contente chorou
As feridas lhe curou
Livrou elle de morrer
Então se ouvia dizer:
Serás uma alma fiél
Bemdicto o Deus de Israel
Que foi, que é, e ha de ser.

Estando Oliveiros sentido
Por vêr assim Ferrabraz,
Lhe disse,—hoje serás
Pelos pares recebido;
Não por eu ter te vencido
Mas sim por seres christão…
Porque a religião
Abraça todo rebelde
Desde da hora que pede
De suas culpas perdão.

Disse o turco:—has de montar
Em meu cavallo e seguir;
Se meu exercito me vir
Ha de querer me tomar
E cuide logo em se armar
Com a maior brevidade,
Tenho arma em quantidade
De qualidades mais bellas
Pode confiar-se nellas,
Que valem sete cidades.

E por traz daquelle oiteiro
Tem dez mil turcos esperando
E mais que ha de vir chegando
Cada qual mais cavalleiro
Onde tem cada guerreiro
Que só um tigre ou leão
Homens de disposição,
Destros no jogo da lança,
Pessôas de confiança
Do almirante Balão.


E disse: has de montar
Em meu cavallo e seguir
E ajudar-me a subir
Para poder me levar,
E não deves demorar
Porque estou muito ferido…
Ficarei muite sentido
Se morrer sem baptisar-me,
Alli tem a esperar-me
Exercito muito crescido.

Estava Oliveiros montado
Pode montar Ferrabraz
Depois olhou para traz
Viu um turco admirado
Perguntou muito espantado
Aquelle é soldado seu?
O turco então respondeu
Pois muito bem conhecia
E disse aquelle é espia
E’ turco e soldado meu.

Paciencia meu amigo
Vamos ver o que se faz
Não chore senhor Ferrabraz
Deus a de ficar comtigo
Ja vêjo perto o perigo
Não posso me demorar
Ouço busina tocar
São os inimigos meus
Tenhas fé na Mãe de Deus
Um christão a de te achar.

Oliveiros se apeiou
E deitando Ferrabraz
Um dos golpes mais mortaes
Alli do turco curou
Sobre uma sombra o deixou
Apenas pôde abraçal-o
Foi obrigado deixal-o
E ir de encontro aos guerreiros
O turco disse Oliveiros
Te monta no meu cavallo.

Tu és prévilegiado
Para afrontar as bravuras
Leva minhas armaduras
Porque irás bem armado
Va munido e preparado
Porque nelles tem cobardes
Os menos de qualidades
Poderão armar ciladas
Eu trago alli 4 espadas
Que valem 4 cidades.


Quando Oliveiros olhou.
Que viu que o turco era espia
A toda carreira ia
Oliveiros exclamou
Inda bem não se acabou
A primeira que peguei
Vem outra e aceitarei
Haja o que Deus for servido
Tudo é por Deus permitido
Por Deus eu tudo farei.

Disse ao turco o meu destino
Era fazer-te chistão.
Mostrar que a religião
E’ um baluarte fino
E’ o protector divino
Não desampara ninguem
De seu grande poder vem
A felicidade humana
Daquella mão soberana
O que se deseja tem.

Meu desejo éra levar-te
Para a terra de christão
Depois de uma confissão
Na igreja baptisar-te
Sou obrigado deixar-te
Ferrabraz poz-se a chorar
Disse se eu podesse andar
Mas oh! que estou tão ferido
E nessa mata perdido
Morro sem me baptisar.

Disse Oliveiros me basta
Esta mesma que possuo
Porque com ella eu concluo
O que só o tempo gasta
Porque elle é quem arrasta
A vida do inimigo
Por mais que seja o perigo
Para mim perde a acção
Porque ella em minha mão
Só perde por um castigo.

Disse o hoste dos guerreiros
Não posso te falar mais
Disse em pranto Ferrabraz
Parte com Deus Oliveiros
Orgulho dos cavalleiros
Misterio da criação
Amparo de uma nação
Apostolo firme da fé
Culumna que traz em pé
Corôa, gloria e brazão.


E Oliveiros partindo
Disse Ferrabraz comsigo
Aquelle estando em perigo
E’ dos que morre surrindo
Rios de sangue sahindo
Inda elle diz, isso é nada
A batalha está travada
Porem elle nada estranha
Joga a vida na campanha
Crer em Deus e na espada.

Quando Oliveiros sahiu
Do mato para estrada
Uma grande tropelada
Já muito perto sentiu
Um rei turco, ahi o viu
E fitou bem para elle
Conheceu que havia nelle
Força e destreza de mais
Gritou, matou Ferrabraz
E vem no cavallo delle.

E indo logo encontral-o
Lhe disse tú me darás
Noticias de Ferrabraz
O donno deste cavallo
Oliveiros para enganal-o
Disse elle foi descançar
E não quer mais adorar
Um Deus falso illudidor
Está com meu imperador
Onde vai se baptisar.

O turco disse: Christão
Serás um dos cavalleiros?
Serás tú o Oliveiros
Que de Borgonha ou Roldão?
O almirante Balão
Deseja um desses pegar
Para mandal-o queimar
A elles e ao teu senhor
Esse teu imperador
De quem hei de me vingar.

Ahi logo começou
Uma batalha tremenda
Uma mortandade horrenda
Que o sangue ao campo insopou
Um grande exercito avançou
Com tanta disposição
Que feria o coração
Ver turcos feitos em pedaços
Uns sem perna outros sem braço
Rolando vivo no chão.


Era sem limite a scena
Desses feroses guerreiros
A espada de Oliveiros
Lascava turco sem penna
As pancadas mais pequenas
Lascava até a cintura
Não tinha uma criatura
De todos os cavalleiros
Que investindo Oliveiros
Tivesse a vida segura.

Chegou um gigante enorme
Trasendo uma grossa lança
Disse dos pares de França
Não deixarei nem o polme
E’ra um gigante disforme
Um aspecto horrendo e feio
Parecia um grosso esteio
Chegava a vir a gallope
Oliveros deu-lhe um golpe
Lascou-o de meio a meio.

O rei turco enfureceu
Vendo do gigante a morte
Exclamou foi o mais forte
Que na turquia nasceu
Turco que nunca temeu
O mais medonho embaraço
Nunca viu um só pedaço
De sua espada ou da lança
Julgo que os pares de França
O Deus delles os fez de aço.

Pois como um só paladino
Faz semelhantes estragos!
Esses desmididos rasgos
Só sendo alfange divino
Não é poder pequinino
Que ainda esses cavalleiros
Ou elles são feiticeiros
Ou entes indiabrados
Ou foram todos gerados
Por diabos disordeiros.

O turco não acabou
A phrase que profiriu
Quando Oliveiros partiu
A um reforço que chegou
Nova lucta começou
Tornou-se um drama esquisito
Quem via ficava afflicto
Das espadas os sustinidos
Pareciam os estampidos
De trovões no infinito.


O almirante balão
Estava em perigos fataes
Por saber que Ferrabraz
Foi preso por um christão
Nessa desesperação
Lamentando seu estado
Mandou um reforço armado
Com ordens, especiaes
Que trouxesse Ferrabraz
Ou não voltasse soldado.

Oliveiros já estava
Sem lança, arnéz e escudo
Faltando-lhe quasi tudo
Já descoberto brigava
Apenas só lhe restava
A viseira e a espada
Por não poder ser quebrada
Devido a temperatura
Pois foi a lamina mais dura
Que por homem foi forjada.

Carlos Magno mandou
Mais 4 dos cavalleiros
Para ajudar Oliveiros
Mas nada se aproveitou
Um reforço que chegou
De turcos exercitados
Na lucta foram pegados
Esses 4 cavalleiros
Onde levaram Oliveiros
Preso com os olhos tapados.



Continuará o resto da historia em outros volumes



Leandro Gomes de Barros


Todas as obras escritas por autores brasileiros falecidos até 31 de dezembro de 1935 se encontram em domínio público nos Estados Unidos, independentemente de quando foram publicadas, inclusive obras póstumas já publicadas e ainda não publicadas. Além disso, essas obras estão também em domínio público no Brasil, em Portugal e nos demais países onde os direitos autorais expiram após 70 anos da morte do autor. (detalhes)