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A Dança do Destino/Chuva de flores

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CHUVA DE FLORES
Chuva de flores
 

 
I
 

Passa o destino, em nuvens condensadas,
dançando pelos mundos, sem cansar,
e do jardim de estrelas, ás braçadas,
myríades de flores lança no ar,

lindas, alegres, tristes ou fanadas.
As sementes das flores vêm tombar
na vida que desponta, e mergulhadas
ali, ficam p'ra sempre a germinar.

Eis o que faz a dança do destino:
No ar que se respira em pequenino,
faz-nos beber a flor da nossa sorte.

Seja a violeta, a rosa, o cravo, o lirio,
o goivo, o malmequer, ou o martyrio,
floresce, sempre, em nós até á morte!

II
 

Se a flor é graciosa e nacarada,
a vida passa leda e sem canseira,
a florir numa esp'rança feiticeira,
nas canções d'uma aurora perfumada.

Porém, se é flor altiva e delicada,
o orgulho já nos fere; e a sementeira
não é das mais felizes!... Sobranceira
magôa-nos a vida, por um nada...

Mas ai! se do martyrio é a semente,
o ar que se respira, tristemente,
é feito só de lagrimas e ais!

E então, esse Destino, dominante,
na sua dança louca e revoltante,
dá-nos só essa flor... e nada mais.