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A Esperança Vol. I/A mãe que abandona o filho recem nascido

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A' mãe que abandona o filho recem-nascido
 

 

Podeste ó mãe cruel abandonar
O filhinho que à pouco era em teu seio,
Banil-o de teus braços, n'uma estrada,
A'mercé dos que passam ir arrojal-o?!
Não tremeste insensivel! Na tu'alma.
Não te acusou a voz da natureza?!
Lá dentro não sentiste o amor subido,
Esse amor privativo só de mae?
Não te pulsou mais forte o coração?
Não te estalou de dôr o peito insano
E deslisar dos olhos não sentiste
O pranto, quando o filho comtemplaste?
Olha as féras terriveis como animam
Os filhinhos que ao peito seu conchegam!
E tu sendo mulher, tornaste um mons!ro
Peor que o tigre féro, ou que o leão!
Da natureza horror! Desdouro eterno.
Da raça que o senhor formou humana!
P'ra teu erro encobrir, expões sem dó
O pobre innocentinho a incerta sorte!..
Queres que mãe adoptiva vá prestar-lhe
Os carinhos que a sua lhe negou?!
Ah! Corre, arrependida, vae tomal-o
Nos braços e depois ufana, ao mundo
Apresenta-o sem pejo que esse nome
De filho t'endemnisa da vergonha
Que sentes por não ter um pae que dar-lhe.

Maria Adelaide Fernandes Prata.