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A Esperança Vol. I/A nuvem branca

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A nuvem branca

Corre, vòa bem ligeira,
Branca nuvem feiticeira,
N'esse campo de saphira:
Corre, vòa, e vem pousar-te
Junto a mim. quero cantar-te
Nas cordas da minha lyra.

Como corres pressurosa,
Nevada nuvem formosa,
Por esse espaço dos ceus!
Porque assim foges de mim?
Leve nuvem de marfim
Não ouviste os rogos meus?

Não ouviste: e de repente
Vaes alem, no occidente,
Esconder-me os mimos teus.
Não ouviste, e assim fugindo
Vaes subindo, vaes subindo;
Vaes acaso aos pés de Deus?

Ou vaes trocar essa cor
De formosa e branca flor
Por outra côr mais sombria?
P'ra voltar depois, mais tarde,
Nas azas da tempestade,
Escur'cer tão lindo dia?

[Vestir as roupas de luto
Onde trarás, mal occulto,
Embravecido tufão,
Raio ardente.a scintillar,
E após elle a ribombar
Medonho, rouco trovão?

Não troques não, nuvem bella,
Esse traje de donzella;,
Fica assim que és mais formosa.
Ha-de vir o sol beijar-te,
As leves roupas dourar-te,
Tingir-te de cor de rosa.

Vem brincar no céo sereno
Do meu paiz tão ameno;
Não vás o raio buscar!
Tuas roupas de setim,
Tão brancas como o marfim,
Pode-as o raio queimar...

N'esses gelos scintillantes,
Que brilham como diamantes,
Vaes teus encantos perder!
Vaes manchar essa candura,
Essa graça, nuvem pura,
Que tão linda te faz ser.

Vem antes brincar co'a brisa,
Que suave se deslisa
Aqui, nas noites de v'rão.
Vem ouvir a minha lyra
Quando commigo suspira
As phrazes do coração.

Não queres-me ouvir, doidinha?
Assim foges, pobresinha,
Vaes o raio procurar?
Como a louca mariposa,
Que deixa o prado e a rosa,
E na luz se vai queimar?..

Como corres apressada,
Linda nuvem malfadada,
Por esse espaço dos ceus!
Jámais verei tua alvura,
Tua graça, nuvem pura.
Nuvem bella a adeus, adeus.

Veiga ― Junho ― 1863.

D. Ephigenia do C. S. Telles.