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A Esperança Vol. I/Uma captiva

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Uma captiva
 

 

Que te falta minha bella
Entre os mimos d'este harem?
Mais grandezas do que tu,
O' por certo ninguem tem!

Rodeiam-te ouro, diamantes,
Pizas estofos dourados
Que te falta? Por qué exhalas
Esses ais tão magoados?

Por ti foram olvidadas
Mil bellezas d'este harem,
Só tu reinas na minh'alma,
Ah! não amo mais ninguem!..

Nos jardins scismando á noute.
Por que t'encontro sósinha?
Que falta á tua ventura,
O' dize-me estrella minha?

Por que te ergues quando a aurora.
Junto ao lago divagando
E volvendo ao céo teus olhos.
Tristemente suspirando?

Para que das avesinhas
O destino tanto invejas
Que posso mais offertar-te,
Diz ó bella o que desejas?

Por que tanto amas Zolmira
Dos bosques a solidão,
Por que não és tu feliz
Dando-te o meu coração?

Por que já da rubra rosa
Teu rosto não tem a cor?
D'onde provém esse pranto?
Diz-me o que tens meu amor!

Em vão finges um sorriso
Que s'esconde n'um instante,
O' não tentes illudir-me,
Nada escapa a um terno amante!...,

― «Ah! senhor! pois que é forçoso,
«Não offuscar a verdade,
«Dir-vos-hei que os cordeirinhos
«Tem lá fora liberdade!...

«O fausto que me rodeia,
«Não, senhor! Não me namóra,
«Eu só preso a liberdade,
«Quero ser pobre lá fóra!...

 

Maria Adelaide Fernandes Prata.