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A Filoxeira

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O maior cuidado de Dona Marieta Gomes era a educação daquele filho. Horrorizava-a a idéia de possuir um rebento da sua árvore sem a noção completa da moral católica, e foi com essa preocupação que tomou, ela própria, à sua conta, a educação completa do pirralho.

— Quero que você se torne um homem como seu avô; um homem sério, formado na lei de Deus, e que seja, um dia, fidalgo da Santa Sé!

E assim ia sendo, mais ou menos. Sem confiança no marido, que podia manifestar informações profanas ao seu Ricardinho, ou saía madame com ele pela cidade, ou pedia ao pai, o cone Souza Viana, que saísse, levando-o a conferências, às exposições, aos lugares instrutivos. E foi em uma visita à Escola de Belas Artes, que o menino, vendo o avô parado diante de um mármore admirável representando uma beleza feminina, em tamanho natural, indagou, vivaz:

— Vovô, que folha é esta?

— É folha de parreira... — informou o ancião, a voz trêmula, puxando-o carinhosamente pelo braço...

Dias depois, passeavam Dona Marieta, o filho, e o padre Corrêa, amigo da família e padrinho do garoto, pelo jardim da grande chácara do Corcovado, quando o reverendo estacou diante de uma videira, cujas folhas haviam sido atacadas pela filoxera. Estacou, arrancou a folha, examinou-a devidamente e ia atirá-la fora, quando o Ricardinho indagou, os olhos muito vivos:

— Dindinho, que bicho é esse?

— É a filoxera, uma moléstia das parreiras... — informou, paciente, o sacerdote.

— E isso só dá nas plantas de verdade? — insistiu o menino, os olhos na cara do padre.

E como ninguém respondesse, por não ter compreendido:

— É porque o vovô, quando vai comigo naquele museu, fica um tempo enorme, olhando aquelas folhas que estão naquelas mulheres de pedra!