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A Fortuna

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Embora não fosse tão bonita de rosto, Anália Thompson possuía uma infinidade de admiradores, a ponto de ter, sempre, nas festas, um séquito, como o das rainhas.

— Viúva com dinheiro é isso mesmo! — diziam as despeitadas.

E acentuavam:

— Beleza é, mesmo, coisa que ela não tem!

Realmente, a conhecida senhora não constituía uma cara fora do comum. Fizessem, porém, no Rio, um concurso de plástica feminina, e ninguém arrebataria o prêmio às mãos daquela malsinada criatura.

Da cintura para baixo, principalmente, a sua elegância era irrepreensível. O seu andar, sem exagero, sem requebros, fazia lembrar entidades de outras épocas, tipos clássicos de formosura feminina, criaturas que fizeram, de passagem, a glória fugitiva do planeta. E Dona Anália sabia tanto o que valia, e onde estavam os seus encantos, que, quando queria impressionar alguém, começava, logo, por dar-lhe as costas.

Não obstante isso, a inveja teimava em afirmar:

— É o dinheiro! Aqueles rapazes todos que a cortejam são arrastados pelo dinheiro dela!

Certo dia, em uma festa no palacete dos Mendes Barros, estava a moça num banco de jardim, sentada, quando dela se aproximou, bonito e grosseiro, na sua estupidez dourada, o Flávio Loureiro, curioso tipo de conquistador sem educação, e foi, logo, dizendo:

— É verdade, dona Anália: é certo, mesmo, que a senhora tem fortuna?

— Eu? Tenho alguma... — explicou a viúva, resolvida a divertir-se com aquele cavalo de pau.

— E está em prédios, em apólices, em empresas comerciais... em suma; em que está empregada? — insistiu o bruto.

— Minha fortuna? — tornou a moça.

E olhando, de esguelha, para as tábuas em que se sentava:

— Está no Banco...