A História
A HISTORIA.
The flow and ebb of each recurring age.
Byron.
Triste lição da experiencia deixão
Os évos no passar, e os mesmos actos
Renovados sem fim por muitos povos
Sob nomes diversos se encadeião:
Aqui, além, agora ou no passado,
Amor, dedicação, virtude e gloria,
Baixeza, crime, infamia se repetem,
Quer gravados no sócco de uma estatua,
Quer em vil pelourinho memorados.
Eis a historia ― rainha veneranda,
Trajando agora sedas e velludos,
Depois vestindo um saco despresivel,
D’immunda cinza, apolvilhada a fronte.
Se as virtudes do pobre não tem preço,
Também dos vicios seus a nodoa exigua
Não conspurca as nações; mas ai dos grandes,
Que trilhão senda errada, a cujo termo
Se levanta a barreira do sepulchro,
Onde se quebra a adulaçáo sem força.
Se virtuoso, as gerações passando
As cinzas lhe beijarão; se malvado
Cospem-lhe affrontas na vaidosa campa,
Jamais de amigas lagrimas molhada.
E qual do Egypto nos festins funereos,
Maldizem bons e máos sua memória,
Lançando á face da real múmia
Dos crimes seus a lacrymosa historia.
Talvez, porém, um infortúnio grande,
Um exemplo sublime de virtude
Cobre dourada pagina, que aos olhos
Pranto consolador do peito arranca.
Eis a historia! — um espelho do passado,
Folhas do livro eterno desdobradas
Aos_olhos dos mortaes; — aqui, sem mancha,
Além golfeja sangue e súa crimes.
Tal foi, tal é: retraio desbotado,
Onde se mira a geração que passa,
Sem côr, sem vida, — e ao mesmo tempo espelho,
Que ha de ser nova copia á gente nova,
Como os annos aos annos se succedem.
Ondas de mar sereno ou tormentoso,
As mesmas na apparencia, que se quebrão
Sobre as d’areia fluctuantes praias.