A Mandinga/Apresentação

Wikisource, a biblioteca livre

Poema em prosa, trágico-cômico-burlesco, que não se sabe bem como começou nem quando acabará — pela firma social S & S & S — como tudo se verá com o andar do tempo, se Deus quiser.

Não ride.

Existe — existe — abaixo de nós outros, que lemos jornais — discutimos política e tratamos de negócios — o mundo sombrio — rodeado de pouco caso — aparente — mas que é tratado com respeito, quando alguém carece do seu serviço — de ordem diversa — e que a geral hipocrisia social priva de procurar em plena luz.

O mundo que passa à nossa beira — durante o dia em que não atentamos — mas que espia o que fazemos — cospe no lugar onde pousamos o pé — e que traça no ar — sobre as nossas costas — grandes figuras fantásticas.

O tempo dos bruxedos — Não passou.

Apurai a memória e recordai-vos de mil frases soltas — sobre casos sucedidos com pessoas das vossas relações.

Recordai — recordai — atróz a dor de cabeça de um; a cólica súbita de outro; a congestão aqui, a febre acolá! Por que? Como? Por outro lado — os desgostos — as dissenções — a desconfiança — há cilada de todo o gênero.

Procurai — procurai.

São as misteriosas consultas provocadas pelo despeito — pelo ciúme — pela inveja e pela pequena ambição.

São as ignóbeis, beberagens; as representações barbaramente teatrais de cenas caóticas; as invocações — os gritos — os trejeitos — as contorções.

E o povo — por mais que ria — cá fora — lá dentro — no santuário — prosta-se.

Porque, apesar de tudo — ele não fala no feiticeiro — sem uma ponta — nem sempre oculta de um vago receio — como se o bruxo — estivesse — aqui — ouvindo e pronto a saltar sobre o imprudente e sufocá-lo com o laço invisível e todo poderoso da sua aliança com o DEMÔNIO.