A Modéstia de Moisés
(Sobre um conto de Jules Moy)
O céu estava todo enfeitado de estrelas, que os anjos iam acendendo, quando São Pedro, arrastando a sua túnica branca pelo mármore leve das nuvens, foi avisar aos três hóspedes do Paraíso que o Senhor, o Senhor Deus, lhes queria falar. O negócio era urgente, e, momentos depois, estavam os três naquela sala imensa, em que o Criador de todas as coisas costuma dar, nos dias de festa, as suas audiências. O rosto grave, a grande barba de seda branca derramada pelo peito, com uma catarata espumejante que se atirasse de um rochedo, o Senhor explicou-lhes o motivo daquela convocação. Eles pertenciam cada um a uma religião diferente — um era católico, outro protestante, outro judeu — e Ele, senhor do mundo e da vida, ia-lhes fazer a graça de pô-los de novo na terra, com a circunstância, ainda, de lhes conceder o que mais desejassem, para realização da sua felicidade.
— Eu, Senhor — disse, logo, o católico, — eu quero possuir todos os diamantes do mundo!
— O meu desejo, Senhor, é ter tudo, o ouro da terra! — secundou o protestante.
Encolhido atrás dos companheiros, o nariz curvo, os olhos faiscantes e miúdos, a barba negra espichada no queixo magro, o judeu não dizia nada.
— E tu, Moisés? — interpelou Jeová.
— eu, Senhor? — fez Moisés, com humildade. — Eu vos peço apenas, Senhor, que me dês, lá, embaixo...
E ao ouvido de Jeová piscando o olho:
— O endereço dos dois...