A Mona do Sapateiro/V
Em seguida Joaninha conduzia seu noivo até à porta da rua.
Na oficina jazia o sapateiro estendido no chão, a dormir como um porco. Escorregara do assento, em que o tinha deixado Fernando.
Chovia bastante, àquela hora, e a água, entrando pelo vão da porta da loja, inundava o chão. Cândido parecia boiar num lago.
Os noivos não lhe deram atenção... Apertaram-se as mãos e Joaninha perguntou graciosamente:
— Como se chama, mesmo, você?...
— Felizardo... flor...
— Bem... Agora, Felizardo, até...
— Logo, Joaninha...
Dando esta resposta, Fernando abriu o guarda-chuva que trouxera.
— Adeus! atirou-lhe a filha do sapateiro.
— Adeus! disse ele, sorrindo.
E partiu.
Pouco depois, Fernando e Emílio conversavam em sua casa.
— Com que, graceja Emílio, conseguiste, meu felizardo, plantar uma lança em África!...
— Sabes que sou decidido, observou Fernando, pavoneando-se... Mas o principal é que temos de nos mudar desta casa, já e já... não quero que a pequena me torne a ver...
— Fazemos a mudança amanhã mesmo; olha, o Z mudou-se há dois dias; temos a casa dele...
— O diabo é esta chuva... parece que o céu está chorando...
Todo estudante é mais ou menos poeta. A frase de Emílio inspirou-lhe uma idéia.
— Deixa estar, Fernando, que hei de dedicar-te um soneto com este título: a queda de um querubim, onde farei o céu deplorando uma virgem...
— E eu, replicou o companheiro distraidamente e rindo, hei de dedicar-te um com este outro titulo: a mona do sapateiro.