A Mulher "Forte"

Wikisource, a biblioteca livre

Quando o coronel Praxedes Gama teve notícia de que a filha havia abandonado o marido para ir viver com um capitalista, ficou furioso. Era o primeiro punhado de lama que tombava sobre a família.

— Vou ao Rio, e mato-a! — exclamava o honrado fazendeiro, a andar de um lado para outro do alpendre da fazenda, cofiando a barba venerável.

Coração de mãe, dona Miquelina tranqüilizava-o. Quem sabia se aquilo não seria a felicidade da menina? Tapassem, os dois, os ouvidos, e dessem tempo ao tempo. E o tempo foi, realmente, generoso, porque, ao visitar a filha, meses depois, e ao ser apresentado ao novo genro, o coronel ficou tão satisfeito com o luxo, a beleza, o bem-estar da sua Luizinha, que não lhe tocou, sequer, naquela mudança de estado.

Meses passados, voltou, e encontrou, já, outro genro.

— Meu marido, — apresentou a moça. E para o novo esposo, indicando o ancião:

— Meu pai.

Essa nova modificação na vida da filha feriu fundo o coração do velho, o qual, ao tê-la só, inquiriu, severo:

— Que é isso, então? Que vida é esta que levas? Tu não eras, acaso, uma mulher forte?

— Sou, papai; sou forte! — confirmou a moça.

E abraçando o velho, garota:

— Papai já viu "forte" que não mude de guarnição?