A Mulher de Preto/V
Quando sahírão, o deputado disse ao medico:
— Meu amigo, você é desleal comigo...
— Por quê? perguntou Estevão meio serio e meio risonho, não comprehendendo a observação do deputado.
— Sim, continuou Menezes; você esconde-me um segredo...
— Eu?
— É verdade: e um segredo de amor.
— Ah!... disse Estevão; por que diz isso?
— Reparei ha pouco que, ao passo que os mais conversavão em politica, você pensava em uma mulher, e mulher... lindissima...
Estevão comprehendeu que estava descoberto; não negou.
— É verdade, pensava em uma mulher.
— E eu serei o ultimo a saber?
— Mas saber o que? Não ha amor, não ha nada. Encontrei uma mulher que me impressionou e ainda agora me preoccupa; mas é bem possivel que não passe d’isto. Ahi está. É um capitulo interrompido; um romance que fica na primeira pagina. Eu lhe digo: ha de me ser difficil amar.
— Porque?
— Eu sei? custa-me a crer no amor.
Menezes olhou fixamente para Estevão, sorrio, abanou a cabeça e disse:
— Olhe, deixe a descrença para os que já soffrêrão as decepções; o senhor está moço, não conhece ainda nada d’esse sentimento. Na sua idade ninguem é sceptico... Demais, se a mulher é bonita, eu aposto que d’aqui a pouco ha de dizer-me o contrario.
— Póde ser... respondeu Estevão.
E ao mesmo tempo entrou a pensar nas palavras de Menezes, palavras que elle comparava ao episodio do theatro Lyrico.
Entretanto, Estêvão foi ao convite de Magdalena. Preparou-se e perfumou-se como se fosse fallar a uma noiva. Que sahiria d’aquelle encontro? Viria de lá livre ou captivo? Já seria amado? Estevão não deixou de pensal-o; aquelle convite parecia-lhe uma prova irrecusavel. O medico entrando n’um tilbyry começou a formar varios castellos no ar.
Emfim chegou á casa.