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A Onda e o Rochedo

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Nunca se vira, em Copacabana, insistência como aquela. De manhã, no banho, ou à tarde, no "footing", lá estava o rapaz ao lado da pobre moça, torturando-a com a lembrança do seu amor sem correspondência.

— É possível, Armando, que eu um dia lhe queira bem, — dizia-lhe a pequena, com aborrecimento; — mas não tenha grande esperança. Distraía-se, passeie, procure esquecer.

Ele, entretanto, teimava:

— Não, senhora. Eu espero. Eu tenho confiança. Um dia, eu serei correspondido.

Iam vivendo assim, — ela importunada, ele importunando-a, — quando, uma tarde, vendo-a sentada na areia, perto das ondas, ele se foi chegando, até que se sentou ao lado da vítima.

O mar, muito azul, estava admirável, nesse dia. Harmoniosas e redondas, as vagas vinham delonge, rolando, até que rebentavam de encontro às pedras das proximidades da Igrejinha, como se uma grande toalha de rendas que se rasgasse. O rapaz olhava esse espetáculo da natureza, quando, virando-se para a moça, lembrou, estirando o dedo na direção dos rochedos.

— Está vendo? — disse. — Aquilo, Dona Júlia, é o símbolo da minha constância. Eu sou a onda, e a senhora é a pedra. E água mole me pedra dura...

E fitando-a, triste, enquanto ela corava:

— Tanto bate, até que fura...