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A Patria Brazileira/I

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Capitulo I
Patria e Escóla

A Patria, meus caros meninos, não é somente o vasto territorio em que vivemos, o sólo que cultivamos, a terra que nos viu nascer, esse conjuncto de incomparaveis bellezas naturaes, que chamamos carinhosamente — Brazil.

Não : sentimol-a tambem em tudo que nos desperta o affecto ou o enthusiasmo pelo nome brazileiro, – nas estatuas dos heróes, nas grandes datas da historia, nas obras primas dos artistas, nos monumentos da litteratura.

A Patria é ainda o que quer que seja invisivel, que vibra dentro de nós, percorrendo como o sangue nossas veias; é, por exemplo, essa commoção, que nos agita, quando contemplamos respeitosos a bandeira auri-verde, symbolo

sagrado de nossa nacionalidade, ou ouvimos extasiados as sonorosas notas de nosso Hymno.

Eil-o, a grandiosa producção musical de Francisco Manoel da Silva, como uma suggestão, que vos fazemos, para que procureis apprender no valor de cada nota o sentimento que elle traduz :

\new PianoStaff <<
   \new Staff \relative c' {
      \key bes \major \time 4/4 \tempo 4 = 120

      r2. f16\noBeam\f f8\trill[ e32( f32]
      bes8-)[ r16 bes16]
         bes8.\trill_[ a32( bes32]
         d8-)[ r16 d16]
         d8.\trill[ c32( d32]
      f4) <bes, d f bes>2\f
         f8.\mf f16
      bes8.[( a16 c8. bes16]
         ees8.[ d16 ees8. d16)]

     b4( c4) r8. g16 g8 fis16 g16
   }
   \new Staff \relative c {
      \clef bass \key bes \major 

      r2. f16\noBeam\f f8\trill[ e32( f32]
      bes8-)[ r16 bes16]
         bes8.\trill_[ a32( bes32]
         d8-)[ r16 d16]
         d8.\trill[ c32( d32]
      f4 <bes,, d f bes>2
         r4
      <bes' d,>4
        <f c'>4
        <bes d>4
        <c es>4
     <f,, f'>4
        <f' a c>8.[
        <f a c>16]
   }
>>

Hymno Nacional E para bem avaliardes a veneração que deveis á bandeira nacional, lêde um expressivo episodio da guerra que sustentámos contra o Governo do Paraguay:

— «Perdemos a bandeira» — eis o brado doloroso que irrompeu nas trevas da noite em que o 30º batalhão de Voluntarios da Patria foi, de surpresa, atacado pelo inimigo nas linhas avançadas de Tuyú-Cué.

— «A morte de todos, ou a bandeira, já!» — brame o Commandante, declarando-se deshonrado, e o batalhão, como um só bomem, resoluto e indomável, parte, de sabre em punbo, persegue o inimigo, alcança-o, lucta com elle corpo a corpo, semeia a morte a cada passo, e volta pouco depois ao acampamento, reduzido á metade, mas trazendo com suas armas e seus feridos o precioso emblema.

E o bravo Commandante, não tendo forças para supportar a intensidade do enthusiasmo pelo heroico feito, que o reha- bilitava, cáe fulminado por um ataque, ao tempo em que a bandeira erguida é saudada com o hymno nacional.


..........


Não basta, entretanto, meus pequenos amigos, que tenhaes gravado no âmago do coração o sentimento da Patria, elle que nasce com o primeiro vagido da existencia, acompanha o desenvolvimento da juventude e só morre com o ultimo suspiro da vida.

Não, não basta: o amor da Patria sem à orientação necessária, sem que vossa consciencia possa criteriosamente avalial-o, poderá desvairar-se, degenerando, muitas vezes, em fanatismo prejudicial e improfícuo.

Para seu cultivo, porém, ha dois grandes e bellos scenarios, intimamente ligados, aos quaes deveis o maior acatamento: — a Familia e a Escóla. Si ao deixar o seio carinhoso do lar, onde a alma desabrocha, não vierdes devidamente encaminhados, por conselhos e exemplos valiosos, para a sociedade civil, esta receberá um elemento negativo para seu progresso, sem que possa ser bastante efficaz a acção civilisadora da escóla.

Si esta illustra a intelligencia ainda crystallina, em regra não poderá agir com successo sobre o coração entorpecido, ou mal inclinado.

Preparae, pois, vosso espirito na vida do lar, para que possaes bem desdobral-o, por intermedio da escóla, na vida social.

Cultivae os grandes sentimentos e tende horror á ignorancia, que depaupera o espirito e corróe as energias.

De certo já tereis visto o sol, que nos illumina e aviventa, perder o brilho fulgurante sombreado por espessa nuvem.

A luz não se apaga; o sol não deixa de ser o mesmo centro de vida; mas não surgirá radiante, emquanto se não desfizer o manto negro que o occulta.

Assim succederá comvosco, emquanto permanecer vosso espirito annuviado pela escuridão da ignorancia.

Como o astro-rei tem luz propria, sois dotados de intelligencia e sentimentos, mas estes e aquella não terão o brilho necessario si a escóla, auxiliada pela familia, não desbravar a primeira e aperfeiçoar os segundos.

Não vedes como o ferro, devido a descuido, é atacado pela ferrugem, que o consome lentamente?

Pois a acção da ferrugem é identica á da ignorancia sobre nossa organização moral e intellectual.

Si esta não for bem cuidada, emquanto a intelligencia bruxoleante e o coração innocente estão aptos a receber com proveito as primeiras impressões da instrucção, sereis mais tarde imperfeitos para os fins sociaes.

Gomo chegareis a conhecer a superioridade do homem pela razão, afim de marchardes para o bem e para o aperfeiçoamento? aperfeiçoamento?? Como penetrareis na multidão dos conhecimentos humanos? Como podereis ser uteis a vossos paes e a vós mesmos, si a actividade não fôr auxiliada e bem dirigida peia intelligencia e pelo caracter, tornando o trabalho productivo e benefico?

Podereis, porventura, servir bem á Pátria, ignorando os deveres que ella impõe, desconhecendo suas grandezas physicas e moraes?

Assim, a escóla é o grande templo do trabalho, onde o mestre, verdadeiro sacerdote, prepara na mocidade estudiosa o futuro da Patria.

Amae, pois, a escóla: ahi obtereis não somente o esclarecimento de vossa intelligencia, mas ainda o espirito de ordem, de disciplina, de estimulo e de solidariedade, indispensaveis ao convivio social.

Predisposto assim vosso animo, lêde agora interessadamente os capítulos seguintes, onde vos descreveremos a Patria Brazileira, encarada sob todos o pontos de vista.