A grande bênção
Aspeto
Mesmo o que vive em funda escuridade,
Ruge, morde, envenena, — uma hora alcanças
Em que é formoso, e aroma de bondade
O ar em torno, cheio de esperanças.
O dilúvio de amor, que tudo invade,
Põe manso o tigre ao pé das pombas mansas:
E um lírio agarra noutro, e ao tom das danças
Lá roda o beijo numa tempestade...
Beijos que vão, que vêm nuns ais lascivos,
Queixas de gozo ou dor dos seres vivos,
Que as dizem só mais alto as bocas doudas:
E esse conúbio em plena primavera
Era como uma grande bênção, era
Como uma longa paz nas almas todas...