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A gratidão do assírio

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Meu caro senhor Assírio, eu lhe tinha a perguntar se de fato está satisfeito com a vida.

Nós nos havíamos introduzido no elegante porão do Municipal e falávamos ao restaurante chic com água na boca. Este não tardou em responder:

— Estou, meu caro senhor; estou, imagine que não há dia em que não me veja abarbado com um banquete.

— É assim?

— Pois não, meu digno senhor. Um poeta publica um livro e logo encomendam-me um banquete com todos os "ff' e rr ; os jornais publicam a lista dos convidados, ao dia se­guinte, e o meu nome se espalha por este país todo. Se acontece alguém escrever uma crônica feliz, zás, banquete, retrato e nome nos jornais. Se, por acaso...

— Notamos, interrompi eu, que nas suas festanças não há mulheres.

— Já observei isto aos dilettanti de banquetes e, até, lhes ofereci organizar um quadro de convidadas.

— Que eles disseram?

— Penso que eles não querem rivalidades femininas. Já as têm em bom número masculinas.

— E as flores?

— Com isso não me preocupo, porque, às vezes, elas me servem para meia dúzia de banquetes. Os rapazes não re­param nisso.

— E as iguarias?

— Oh! Isso? Também não vale nada. Basta uns nomes arrevesados, para que os nossos Lúculos comam gato por lebre.

Mas a minha maior gratidão é...

— Por quem?

— Pela Secretaria do Exterior. Um cidadão é promovido de segundo secretário a primeiro, banquete; um outro passa de amanuense a segundo secretário, banquete... Herança do Rio Branco!... Outro dia, como o Serapião passasse de servente a contínuo, logo lhe ofereceram um banquete.

— Os serventes?

— Não; todos os empregados. Que gente boa, meu caro senhor.

Deixamos o senhor Assírio cheio de uma terna beatitude agradecida por tão bela gente que se banqueteia.

Careta, Rio, 11-9-1915.