A minha flor!
A MINHA FLOR!
Ah! tu ne saurais, m’oublier!
M.me Emile Girardin.
Trago no peito uma flôr
Nesta amena soledade —
É a flôr que nasce d’alma
É a candida saudade.
Tirei-a de sobre um tumllo
Onde tão bella brilhava —
E de côr tão rôxa — rôxa
Que o meu peito roxeava.
Tinha o mago sentimento
Qu’em minha alma exp’rimentava —
Ao colhê-la a sós com ella
O meu fado consultava.
Era triste e merencoria
Nestes desertos lugares —
Qual peito que geme afflicto
Na soidão os seus pezares!
Chorou lagrimas comigo
Tão d’alma e tão pungentes
Que, qual Fada, me dizia
Minhas desgraças pendentes.
E era tão meigo esse som
Que no peito m’echoava —
Que julgava anjo do céu
Quem nest'hora me fallava:
«Porque triste, triste sentes
«Da existencia o dissabor?
«Porque choras gemebundo
«Teus tormentos, tua dôr?
«Queres que eu Fada soletre
«Tuas magoas — tua dôr? —
«São apanagios da terra —
«É saudade — é desamor!
«Descrido assim no mundo
«Não sejas — crê e espera;
«Pois que o tempo nas saudades
«Muitas vezes as tempera!
«Eu sou planta e tambem sinto
«Da saudade o crú rigor —
«Quanta vez de balde espero
«P’ra regar-me o horticultor?
«Quanta vez era dias turvos —
«Anhélo os raios do Sol —
«E quaes nuncios desta vinda
«Os cantos do rouxinol? —
«Quanta vez d’alma suspiro
«No inverno p’la primavera,
«Que tanta vida me dá —
«Nesse tempo em qu’ella impera?
«Infeliz não és tu só
«Neste mundo d’illusão: —
«Eu tambem soffro — e não tenho,
«Como tu — um coração.
«Calla pois os teus tormentos
«Em teu peito amargurado —
«Neste teu cruel penar —
«Sê crente e resignado!»
E assim a florinha
Tão meiga fallou —
Su’alma tão minha
Na minha roçou,
Que os prantos da terra
No peito callando —
Com ella scismando,
Meu pranto findou!