A primavera (Luís Delfino)

Wikisource, a biblioteca livre

A hora, que chega, vê que é tempo, e deixa
A solta a mata, filha predileta:
E logo o verde rolo da madeixa
Desata ao vento, que ela aspira inquieta.

No vento um silfo oculto o afago enceta,
Ninhos e aromas, que nas mãos enfeixa,
Põe-lhe no seio e trança: a pobre é queixa,
Queixa em cio, como alma azul de poeta.

Toda carícia, ardor, canções, perfume,
Geme de gozo, como se a beijasse
Boca cheia de beijos de algum nume.

E a erguer-se na alva a arfar, se crê que nasce
Noiva tímida ao sol, e ante o seu lume
Nua, em flores e renda esconde a face...