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A um cupido de ouro, que trazia preso Anarda nos cabelos

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I
Ao Cíprio rapaz, isento,
De Anarda prende o rigor;
E se prende ao mesmo Amor,
Que muito que a um pensamento?
Já no solto luzimento
Já nos olhos sempre amados,
Ali se vêem ponderados,
Vencedores, não vencidos,
Os seus olhos por Cupidos,
Os cabelos por dourados.

II
Se já não foi que o Deus cego
Quer à bela Anarda amar;
Que bem se pode invejar
De um Deus tão divino emprego.
Em feliz desassossego,
Sentindo amorosa brasa,
Parece n'ũa, e noutra asa,
Quando de amante se enleia,
Ouro não, com que se asseia,
Chama sim, com que se abrasa.

III
Creio já que disfarçado
Quer lograr Anarda bela,
E naquele ouro desvela
Luzimentos de um cuidado:
Pois qual Jove namorado
Daquele belo tesouro,
Um, e outro amante louro,
Ambos são no ardor querido,
Jove em ouro convertido,
Convertido Amor em ouro.