A velha serpente

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É quasi louca; e sabe que a loucura
Ela transmite facilmente, quando
Ri de um rir quente, carinhoso, brando,
Que lhe ilumina toda a formosura.

O mal que dá, o mal que ela não cura,
Embrulha-o um cheiro pérfido e execrando,
E vive, criança, o mundo intoxicando,
Como a velha serpente da escritura.

Não há nada que a abale, a mova, e a excite:
Pode tiranizar os seus tiranos;
Cria, e não mata o anseio do apetite;

E inda lança dos olhos soberanos,
Olhos de invicta Vênus-Afrodite,
Todo sal que amargura os dois oceanos.