Anarda colhendo neve
Colhe a neve a bela Anarda,
E nos peitos incendidos
Contra delitos de fogo
Arma de neve castigos.
Na brancura, na tibieza
Tem dois triunfos unidos;
Vence a neve à mesma neve,
Vence o frio ao mesmo frio.
Congela-se, e se derrete
De sorte, que em branco estilo
A um desdém se há congelado
A dois sóis se há derretido.
Se não é que os candores
Daquela neve vencidos,
Liquidam-se pranto a pranto,
Lastimam-se fio a fio.
As mãos escurecem tanto
A neve, que em pasmos lindos
O que era prata chuvosa,
Ficava azeviche tíbio.
A seu Sol suspiros voam,
E tornam por atrevidos,
Como exalações do peito,
Em nevados desperdiços.
Da neve tiros me vibra,
E felizmente imagino
Que não são tiros de neve,
Que são mãos de Anarda os tiros.
Frustra a neve seus efeitos,
Que me tinham defendido,
De Anarda o Sol luminoso,
De Amor o fogo nocivo.