As Doutoras/II/VI

Wikisource, a biblioteca livre


Personagens: A MESMA e TERCEIRA DOENTE

TERCEIRA DOENTE — Ai! Ai! Ai! Estou que não posso.

LUÍSA — Descanse, descanse um pouco.

TERCEIRA DOENTE — Custa-me tanto subir esta escada.

LUÍSA — Então? Deu-se mal com aquele remédio que lhe receitei?

TERCEIRA DOENTE — Passei um pouco melhor, doutora. Ao menos, consegui dormir duas horas e deitada.

LUÍSA — Eu bem lhe disse. (Examinando as pupilas.) Não vai mal, não. (Pondo-lhe as mãos no pescoço.) Um bocado melhor.

TERCEIRA DOENTE — Eu estou sofrendo do coração, não é, doutora? Fale com franqueza.

LUÍSA — Qual coração! Esqueça-se disto.

TERCEIRA DOENTE — E estas palpitações que sinto, esta zuada constantemente nos ouvidos?

LUÍSA — O que a senhora tem é uma simples anemia que se pode facilmente debelar. (Senta-se e escreve.)

TERCEIRA DOENTE — O médico dizia a mesma coisa ao meu defunto e um belo dia quando ele acordou, coitadinho, estava morto.

LUÍSA (Entregando-lhe uma receita.) — Tome um cálice de duas em duas horas por espaço de três dias, descanse dois dias e depois venha cá! Mande fazer isto na botica do Nogueira no Largo da Lapa.

TERCEIRA DOENTE — Deus Nosso Senhor lhe ajude, Doutora. (Sai andando devagar.)