As Maçãs
(Conto popular do sul da França)
Naquela manhã, minha mãe encheu o meu cesto azul com duas vezes doze maçãs, e disse-me:
— Clara, minha filha, vai à cidade, e evita parar pelo caminho.
Pus meu vestido gomado, meu xale cor-de-rosa, calcei minhas sandálias de ir à missa, tomei o cesto debaixo do braço, e parti.
Ao atravessar o bosque, como fizesse calor, tirei o meu xale e continuei a andar. A erva era tão fresca, e tão espessa, que eu descansei o cesto, e sentei-me no chão. Minhas maçãs brilhavam tanto, e cheiravam de tal maneira, que eu própria lhes sentia o perfume. Tentada por elas, palpei a primeira e mordi. Palpei a segunda, e fiz o mesmo.
— Minha mãe não saberá de nada! — dizia comigo mesma.
De súbito, os ramos estalam, e aparece, entre a folhagem cintilante de orvalho, a figura de um caçador. Os olhos dele eram negros, e brilhantes. Quando a sua boca sorria, tornava-se, branca e rosadas, como as maçãs que eu acabava de morder.
— Bom dia, pequena! Que fazes tu por aqui num dia tão quente?
— Meu senhor, — respondi, — eu vou à cidade vender para minha mãe estas duas dúzias de maçãs.
— Não é preciso ir tão longe, minha menina, — tornou o caçador; — eu as comprarei todas, e tu terás, assim, bastante tempo para descansar, antes de levar à tua mãe o escudo que tenho aqui.
— Um escudo, caçador? Tudo isso por tão pouco?
Sem dar uma palavra, ele estendeu-me o seu chapéu, no qual eu pus as frutas, que se pôs a contar.
— Olá, pequena! Faltam duas.
— Não faltam, não, meu senhor; — gemi, assustada.
— Não mintas, menina; faltam duas, sim. Ou me entregas as duas dúzias, ou eu tomo o meu escudo. Procura-as, e dá-me o par de maçãs, que eu não vejo!
— Procure-as o senhor! — suspirei, fechando os olhos.
Ah, minha mãe, minha mãe! Como me custou ganhar aquele escudo!...