As duas coroas
AS DUAS COROAS.
El laurel sienta mejor,
Que con su regio esplendor
Corona de rei potente.
G. y S.
Ha duas c’rôas na terra,
Uma d’ouro scintillante
Com esmalte de diamante,
Na fronte do que é senhor;
Outra modesta e singela,
C’rôa de meiga poesia,
Que a fronte ao vate alumia
Com a luz d’um resplendor.
Ante a primeira se curvão
Os polentados da terra:
No bojo, que a morte encerra,
Sobre a liquida extensão,
Levão náos os seus dictames
Da peleja entre os horrores;
Vis escravos, crús senhores,
Preito e menagem lhe dão.
E quando o vate suspira
Sobre esta terra maldicla,
Ninguem a voz lhe acredita,
Mas riem dos cantos seus:
Os anjos, não; porque sabem
Que essa voz é verdadeira,
Que é dos homens a primeira,
Em quanto a outra é de Deos!
Se cu fora rei, não te dera
Quinhão na regia amargura;
Nem te qu’ria, virgem pura,
Sentada sob o docel,
Onde a dôr tão viva anceia,
Tão cruel, tão funda late,
Como no peito que batc
Sob as dobras do burel.
Não te quizera no throno,
Onde a mascara do rosto,
Cobrindo o interno desgosto,
Ser alegre tem por lei;
Manda Deos, sim, que o rei chore;
Mas que chore occultamente,
Porque, se o soubera a gente,
Ninguem quizera ser rei!
Mas o vate, quando soffre,
Modula em meigos accentos,
Seus doridos pensamentos,
A sua interna afflicção,
E das lagrimas choradas
Extrahe um balsamo sancto,
Que vale estancar o pranto
Nos olhos do seu irmão.
Se eu fôra rei, não quizera
Roubar-te á senda florida,
Onde corre doce a vida
No matutino arrebol;
Gosas o sopro das brisas
E o leve aroma das flores,
E as nuvens, que mudão cores
No nascer, no pôr do sol.
Gosão disto as que repousão
Em taboas de vis grabatos;
Não quem vive entre os ornatos
D’un throno d’ouro e marfim!
No solio triste, sentada,
Não viras um rosto amigo,
Nem mais viveras comtigo,
Fôras escrava — por fim!
Vive tu teu viver simples,
Mimosa e gentil donzella,
D’entre todas a mais bella,
Flor de candura e de amor!
C’rôa melhor eu t’offreço,
D’ouro não, mas de poesia,
C’rôa que a fronte alumia
Com divino resplendor!