Auto de ereção da Vila de Castro

Wikisource, a biblioteca livre

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil setecentos e oitenta e nove, aos vinte dias do mês de Janeiro dito ano, nesta freguesia do Iapó, no lugar mais competente dela, onde foi vindo o Doutor Francisco Leandro de Toledo Rendon, Ouvidor Geral e Corregedor desta Comarca de Paranaguá, comigo o escrivão do seu cargo ao adiante nomeado, estando presentes as principais pessoas desta dita freguesia, abaixo assinados, além do mais povo miúdo, que se juntou para este ato; e sendo aí, pelo dito ministro, na forma da ordem do Ilustríssimo Senhor Governador e Capitão Geral desta Capitania Bernardo José de Lorena, foi dito perante todos, que ele erigia em vila esta freguesia denominada do Iapó, e mandou que de hoje em diante nos papéis públicos se lhe não desse mais este antigo nome, mas sim e unicamente o nome de Vila Nova de Castro, por ser ereta em honra e memória do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Martinho de Melo e Castro, Secretário de Estado dos Negócios Ultramarinos, que com seu demasiado zelo, tanto tem beneficiado a estes povos. - E logo no mesmo ato, dando princípio a ereção da dita vila, determinou e assinalou o lugar em que se havia de levantar o pelourinho dela, símbolo das justiças, que de fato imediatamente foi levantado de um madeiro grosso, lavrado em quatro faces planas, de figura de um cilindro, com as insígnias nele postas de quatro argolas de ferro, braços pelos lados e um cutelo no alto do remate. E outrossim mandou o dito ministro que junto ao pelourinho, no terreno que estava vago, se fizesse casa de câmara e cadeia; mas que enquanto se não punha esta obra em execução, alugassem os oficiais da câmara uma casa particular, onde se poria um tronco, que servisse interinamente de cadeia. Que esta dita vila de Castro ficaria inteiramente desmembrada, e independente da vila de Curitiba, exercitando jurisdição nos limites do seu termo; o qual confinando com o de Curitiba será pelas cabeceiras do rio Tibagi, a saber, da parte do Norte a cabeceira que nasce ao pé dos matos de Santa Cruz, e corre entre a fazenda dos Porcos, e a de Cambiju, e da parte do Sul, o ribeirão de Santa Rita, que nascendo dos matos da banda do Rio Grande do Registro corre por entre a fazenda de Santa Cruz e o Bairro do Carrapato e vai se meter no dito Tibagi, como melhor se mostra da carta e mapa ao diante, enviado a ele ministro, pela câmara de Curitiba; e confinando ao termo com o da Faxina servirá o mesmo limite da comarca até aqui praticado. Que, finalmente, o juiz e mais oficiais da câmara, logo que tomassem posse, limitarão, o rossio competente, na forma das ordens de Sua Majestade. E por este modo houve ele dito ministro por ereta a nova vila de Castro e em tudo cumprido o espírito da portaria do ilustríssimo e excelentíssimo senhor general; sendo tudo festejado pelas pessoas principais e povo, com aplausos e repetidos vivas a sua Majestade fidelíssima que Deus guarde, a muito alta e muito poderosa Rainha Nossa Senhora D. Maria a Primeira; tendo precedido de manhã Missa solene na igreja matriz para onde concorreram todos com o reverendo vigário a implorar o divino auxílio para o bem acertado governo desta vila e por interceção da mãe do mesmo Deus, Maria Santíssima, com o titulo de Nossa Senhora da Paz, cuja invocação hoje a igreja celebrou; e tendo assistido a um e outro ato a tropa da cavalaria auxiliar desta vila, com repetidas descargas, além de outros sinais demonstrativos de alegria, e de sincero contentamento com que viam cumpridos os seus antigos desejos. Do que tudo para constar mandou ele ministro fazer este auto de ereção que assinou com as pessoas principais desta vila e algumas de Curitiba, que se acharam presentes e eu, João Soares Figueredo Cardozo, escrivão da Ouvidoria Geral e Correição que o escrevi. (aa) Francisco Leandro de Toledo Rendon, o Vigário Frei José de Santa Tereza de Jesus, Rodrigo Felix Martins, Francisco Carneiro Lobo, Inácio Taques de Almeida, Jeremias de Lemos, José Rodrigues Betim, Antonio Gonsalves dos Santos, Agostinho José de Farias, Francisco de Paula Ribas, Duarte Rodrigues Teixeira, Manoel Gonsalves Guimarães, José Ribeiro Cunha, Domingos Antonio, João Pereira de Magalhães, Tomé José Monteiro Braga, Antonio dos Santos Pinheiro, Antonio Roiz Chaves, Antonio do Espírito Santo de Andrade, José Sutil de Oliveira, Custódio Alves de Moura, Paulo de Souza Machado Guimarães.