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Boa sentença (edição de 1877)

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Um homem rico, mas avarento, tinha perdido dentro d'um alforge uma quantia em oiro bastante avultada. Annunciou que daria cem mil réis d'alviçaras a quem lh'a trouxesse. Apresentou-se-lhe em casa um honrado camponez levando o alforge. O nosso homem contou o dinheiro, e disse:

— Deviam ser oitocentos mil réis, que foi a quantia que eu perdi; no alforge encontro apenas setecentos; vejo, meu amigo, que recebeste adiantados os cem mil réis d'alviçaras: estamos pagos por conseguinte.»

O bom camponez, que nem por sombras tocara no dinheiro, não podia nem devia contentar-se com semelhantes agradecimentos. Foram ter com o juiz, que, vendo a má fé do avarento, deu a seguinte sentença:

— Um de vós perdeu oitocentos mil réis; o outro encontrou um alforge apenas com setecentos: Resulta d'ahi claramente que o dinheiro que o ultimo encontrou não póde ser o mesmo a que o primeiro se julga com direito. Por consequencia tu, meu bom homem, leva o dinheiro que encontraste, e guarda-o até que appareça o individuo que perdeu sómente setecentos mil réis. E tu, o unico conselho que passo a dar-te, é que tenhas paciencia até que appareça alguem que tenha achado os teus oitocentos mil réis.