Carta de Euclides da Cunha a João Luís de 23 de julho de 1897
São Paulo, 23 de julho de 1897.
João Luís
Saúdo-te desejando felicidades recomenda-nos a toda a família.
Aconteceu afinal o que eu previa: os amigos da Campanha esqueceram o ausente. É singular porém que eu não me esqueça deles e no meio de uma terra mais agitada me recorde sempre.
Por que então esse silêncio?
O próprio Chico de Lemos, o último que com uma constância heróica sustentou uma correspondência regular — emudeceu bruscamente... Qual foi o desalmado que conspirou aí contra mim? Dirás - ninguém; eu digo - o tempo - apagando as afeições mais sólidas.
Aí vai talvez a minha última carta para a Campanha; digo, talvez, porque ainda creio, não estou de todo cético, ainda creio que me responderá.
Eu vou indo bem; a família boa; os filhinhos bons. Continuo abraçado à minha engenharia e nas horas vagas - como a vida é difícil e é preciso repartir a atividade, escrevo no Estado que não quer aceitar a minha colaboração gratuitamente. Não sei se tens lido os artigos meus, alguns assinados, outros não, mas fáceis de serem percebidos.
Não quero referir-me a assuntos políticos: não te quero assombrar com a minha tristeza imensa e amarga ironia com que encaro aos maltre-chanteurs que nos governam. Felizmente a República é imortal! Resistirá quand même, a despeito de tudo (Escaparam-me dois francesismos detestáveis, desculpa-me).
Dê um abraço no Dr. Brandão que não me escreve, que não me escreverá talvez - o que não impede que o seu nome seja sempre pronunciado em minha casa com a mais respeitosa gratidão. Saudades ao comendador Bernardo, muitas saudades.
Recomende-nos a todos e acredite sempre no am°
Euclides da Cunha
Rua Santa Isabel n° 2 [1]
Notas
[editar]- ↑ À margem: “A Campanha vai ter um bispo... Parabéns??”.