Dança do ventre (1893)
Aspeto
Tôrva, febril, torcicolosamente,
N'uma espiral de electricos volteios,
Na cabeça, nos olhos e nos seios
Fluíam-lhe os venenos da serpente.
Ah! que agonia tenebrosa e ardente !
Que convulsões, que lubricos anceios,
Quanta volupia e quantos bamboleios,
Que brusco e horrivel sensualismo quente.
O ventre, em pinchos, empinava todo
Como reptil abjecto sobre o lôdo,
Espolinhando e retorcido em furia.
Éra a dança macabra e multifórme
De um verme estranho, colossal, enorme,
Do demonio sangrento da luxuria !