De joelhos (Casimiro de Abreu)

Wikisource, a biblioteca livre


Qual reza o irmão pelas irmãs queridas,
Ou a mãe que sofre pela filha bela,
Eu - de joelhos - com as mãos erguidas,
Suplico ao céu a felicidade dela.

- "Senhor meu Deus, que sois clemente e justo,
Que dais voz às brisas e perfume à rosa,
Oh! protegei-a com o manto augusto
A doce virgem que sorri medrosa!

Lançai os olhos sobre a linda filha,
Dai-lhe o sossego no seu casto ninho,
E da vereda que seu pé já trilha
Tirai a pedra e desviai o espinho!

Senhor! livrai-a da rajada dura
A flor mimosa que desponta agora;
Deitai-lhe orvalho na corola pura,
Dai-lhe bafejos, prolongai-lhe a aurora!

A doce virgem como a tenra planta
Nunca floresce sobre terra ingrata;
- Bem como a rola - qualquer folha a espanta,
- Bem como o lírio - qualquer vento a mata.

Ela é a rola que a floresta cria,
Ela é o lírio que a manhã descerra...
Senhor, amai-a! - a sua voz macia
Como a das aves, a inocência encerra!

Sua alma pura na novel vertigem
Pede ao amor o seu futuro inteiro...
- Senhor! ouvi o suspirar da virgem,
Dourai-lhe os sonhos no sonhar primeiro!

A mocidade, como a deusa antiga,
Na fronte virgem lhe derrama flores...
- Abri-lhe as rosas da grinalda amiga,
Na mocidade derramai-lhe amores!

Cercai-a sempre de bondade terna,
Lançai orvalho sobre a flor querida;
Fazei-lhe oh Deus! a primavera eterna,
Dai-lhe bafejos - prolongai-lhe a vida!

Depois - de joelhos - eu direi sois justo,
Senhor! mil graças eu vos rendo agora!
Vós protegestes com o manto augusto
A doce virgem que a minh'alma adora! -

Dezembro - 1858.