Despedida (Paulo Setúbal)

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Não há cores, não ha traços,
Que digam quanto eu sofri,
Ao apertar em meus braços,
Com o coração aos pedaços,
As boas gentes daqui!

Que cena... Adeus, Sizenandol
Té a volta, Zé! Chico, adeus!
Então, nhô Juca, até quando?
— E estreito assim todo um bando
De velhos amigos meus!

Chiquita, flor timorata,
Como eu te abraço com dor...
E ela, a menina gaiata,
Singelamente desata
Num pranto acabrunhador.

Fundo pesar se acrisola
No peito dos que ali estão:
Não chore assim, nhá Carola!
Seu choro me desconsola
E punge meu coração!

Ai, fujo dela! E, na fuga,
Eu vejo-a lá, no portal,
Tão velha, com tanta ruga,
Que ainda os olhos enxuga
Numa ponta do avental!

Pela estrada, velha e torta,
Sigo num largo trotar;
E o coração se me corta,
Ao vê-los todos, na porta,
Com um lenço branco a acenar...

E sigo... Adeus, lenço branco!
Adeus, cafeeiros, adeus!
Bem sinto, a cada barranco,
Que eu, sufocado, me arranco
Destes lugares tão meus!

E sigo... Quantos recamos
De claro e verde matiz!
Riem-se as flores nos ramos,
Esvoaçam os gaturamos,
E beijam-se os colibris!

E ai! que tristeza me invade
Nesta sonora manhã!
Com que mordente saudade,
Volto ao horror da cidade,
Ao pó da vida malsã!

Deixar o campo, as charruas,
Todo este encanto rural,
Para entediar-me nas ruas,
Sabendo as vis falcatruas
Que fez o Ministro tal...

Em vez da caça às perdizes,
Da espera junto aos mundéus,
Vir, como outros infelizes,
Tratar no foro com juizes,
E ouvir nas grades os réus!

E eu, detestando isso tudo,
Num desalento cruel,
Tenho o desejo sanhudo
De espedaçar o canudo
Com a carta de bacharel,

E, na doçura que encerra
Esta simpleza daqui,
Viver de novo, na serra,
Entre as gentes desta terra,
A vida que eu já vivi...