Diccionario Bibliographico Brazileiro/Antonio Augusto de Mendonça

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Antonio Augusto de Mendonça - Nascido na cidade da Bahia a 19 de maio de 1830, sendo filho legitimo de Antonio Augusto de Mendonça, falleceu na mesma cidade a 14 de agosto de 1880, victima de uma affecção chronica do figado.

Ainda muito moço, faltando-lhe seu pae, e tendo imperiosa necessidade de tomar sob sua protecção sua triste mãe e seus irmãos, sem bens de fortuna, sem outra herança mais, do que a de proteger sua familia, o meio mais prompto, bem que insufliciente, que se lhe offereceu para isso foi entrar para o funccionalismo publico de sua provincia com um pequeno emprego no thesouro provincial, d'onde passara a exercer outros até o de secretario do mesmo thesouro, em que se aposentou em janeiro de 1880, com 33 annos de bons serviços.

Antonio Augusto de Mendonça foi sempre dedicado as lettras, poeta repentista, e um dos poetas lyricos mais distinctos que o Brazil tem produzido. Delle escreveu com toda razão o autor das Ephemerides da Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro:

«Rival de Gonçalves Dias na pureza de linguagem, na espontaneidade de imaginação e na melodia do verso, sua excessiva modestia tornou quasi desconhecido seu nome. Aquelle, vivendo n'um circulo mais amplo de relações sociaes, soube tornar seu nome popular no Brazil e em Portugal, onde teve por padrinho no baptismo das lettras o grande historiador portuguez. Mendonça, menos apparatoso, menos communicativo, mais timorato, retrahiu-se do grande clarão da publicidade, e não Viu seu nome estender-se alem das montanhas historicas da terra natal; não tove assim a consagração que a publicidade confere aos que pelo talento a merecem. »

Escreveu:

- Diversas poesías - em muitos jornaes e periodicos litterarios da Bahia; entre ellas as quatro seguintes:

- O poeta: poesia de metrificação variada - Nos talentos brazileiros, 1º volume, 1850, pags. 3 a 7.

- Illusão: idem- Na mesma collecção, pags. 110 a 113.

- Canto heroico ao memoravel día dous de julho de 1850 - Na mesma collecção, pags. 121 a 127. Sobre este assumpto ha composições suas capazes de formar um volume.

- O meu anjo: poesia de metriticação diversa - Idem, pags. 265 a 269. Neste volume se veem tambem deste autor as seguintes composições: Pedido. O poeta desterrado, As estrellinhas. Meu tumulo. Os cantos de minha lyra. Eram teus olhos. Porque me ris? Tu queres que eu cante?

- Poesias de Antonio Augusto de Mendonça (collecção). Bahia, 1861.

- A messalina: poema. Bahia, 1866 - Nesta obra, diz o autor das Ephemerides, já citado, si não ostenta os arrojos de concepção e o opulento contraste de imagens de seu conterraneo Castro Alves, tem de certo graciosa suavidade de uma meditação lamartiniana.

- Muitas poesias - ineditas. Sou informado de que estas composições dariam mais de dous bons volumes; d'entre eIlas, tenho noticia das seguintes:

- Livro e trabalho: poesia- que recitou no theatro de S. João, com muitos applausos, por occasião do beneficio do gremio litterario, na mesma occasião em que recitara A. de Castro Alves sua muito applaudida poesia O Livro.

- A aldeia: poesia - onde se veem estes versos:

A capellinha que alteia
A fronte cheia de luz
Parece apertar a aldeia
Nos braços de sua cruz.
No emtanto a pastorinha,
Voltando de seu labor,
Traz na mente mais carinhos,
Traz no peito mais amor.

Poesia recitada no asylo de S. João de Deus - em que o autor principia:

Um não sei que de celeste
Por estas paredes lavra,
Que minha humilde palavra
Por ser humana não diz.