Divino Infante da gloria
PERA A MISSA
EPISTOLA
Divino Infante da gloria
Que no voſſo naſcimento
Com grãmaticas de amor
Moſtrais que ſois verbo eterno.
Ja que o ſer de Verbo tendes,
Premiti Minino bello,
Que hoje minhas lingoagens,
Saibão explicar eſſe verbo.
Das partes, que em vos ſe admiraõ
Huma oração fazer quero,
Porque o fazer oraçoens
Sempre foi a Deos aceito.
Mil graças vos ſejão dadas,
Ja que o voſſo amor immenſo
Hoje poz no conjunctivo
O ſer de Homem, & de Verbo.
Eſtava o mundo por vòs
Num optativo perpetuo,
Deſejando eſte futuro
Como futuro perfeito.
Vivia o mundo ſem goſto,
Porque em fim aos ſeus deſejos
Faltavamlhe os participios
Deſſe infinito de extremos.
Em quanto vòs não naciens
Eſſe preterito tempo,
Como foi tempo ſem vòs,
Foi preterito imperfeito.
Mas ja pera noſſo bem
Vos trouxe a eſſe preſepio
A força do imperativo,
De hum ſoberano decreto.
Chegou o tempo prezente,
E com amoroſo engenho,
Vos fazeis a noſſos olhos
Prezente a muito bom tempo.
Em fim, meu Deos, que moſtrais,
Pellos indicios que vejo,
Indicativos de glorias,
E infinitivos de exceſſos.
Eſtribillo.
Ora pois aceitai
Menino bello,
Eſta inculta oração
De meu talento.
Que ſe a falar agora
Com Deos me atrevo,
So por ſer em oraçoens
Perdão mereço.