Dize-me, Maria Viegas
1Dize-me, Maria Viegas
qual é a causa, que te move,
a quereres, que te prove
todo o home, a quem te entregas?
jamais a ninguém te negas,
tendo um vaso vaganau,
e sobretudo tão mau,
que afirma toda a pessoa,
que o fornicou já, que enjoa,
por feder a bacalhau.
2Se tu sabes, o que é
o teu vaso furta-fogo,
como tens tal desafogo,
que te pespegas em pé?
dizem, para Marapé
fugira o triste Silveira
está tão correspondente
ao vaso, que juntamente
serra uma, e outra fronteira.
3Tu, me dizem, que fretaste
ao galante de antemão,
e que na tal ocasião
também foste, a que o chamaste:
o teu intento lograste:
mas podias advertir,
que não era bem dormir
(sendo tu ruim) com quem
te cataneasse bem,
como podes inferir.
4Vendo-se tão perseguido
o pobre do pecador,
não deixou de ir com temor
por ver, que tens vaso ardido:
e assim de pouco sofrido,
vendo-se quase atolado
se safou desesperado,
e diz, que tem grande mágoa,
que havendo nele tanta água,
sempre esteja emporcalhado.
5Diz, que achou tal apicu
tão tremendo, e temerário,
que só membro extraordinário
abalaria esse cu:
com guelras de Baiacu
(diz) que se farta o teu Tordo,
e assim que vaso tão gordo,
tão grande, e com tal bocaina
busque maior partezaina,
que eu por isso é, que vos mordo.
6Diz, que sois como um champrão
que nem esporas de pua
farão bolir tal charrua
com vezos de galeão:
se fincas o cu no chão,
como, puta, te ofereces?
e se a todos ruim pareces,
deixa já de fornicar,
que se eles te vão buscar,
é porque os favoreces.
7Diz mais, que quando acabaste,
deste peidos tão atrozes,
que começou a dar vozes
por ver, que te espeidorraste:
e que também lhe rogaste,
depois de se ter tirado,
te fornicasse virado,
pois de costas não podia,
porque, quem tanto bolia,
era força estar cansado.
8Saíste toda com susto,
e vendo ao triste queixar,
te puseste a escutar,
pois se queixava tão justo:
nada tem ele de injusto,
antes a metade cala,
e só a mim me regala
dizer, que atolava inteiro,
se a um ramo de araçazeiro
se não pegara por gala.
9Guardaste triste merenda
para o triste do coitado,
que ficou tão enjoado,
que promete ter emenda:
e com tão grande Calenda
se veio de ti queixando,
que toda a gente pasmando
está de ver, que o teu vaso
é a fonte do Parnaso
nas águas, que está manando.
10Ao burlesco será cono,
ao tudesco chancarona,
c'uma crica de azeitona,
onde encrica todo o mono:
daqui a razão entono
para te satirizar,
e se outra vez pespegar
quiseres, busca, garoupa,
quem no vaso entupa a roupa,
se a roupa o pode entulhar.
11Anda a triste fralda tal,
tão hedionda, e molhada,
que só pode ser coroada
com fogo de São Marçal:
considere cada qual,
o que o Moço passaria
ao ver-se na estrebaria
daquele tremendo vaso,
que joga rasteiro, e raso
tão nojenta artilharia.
12Não terás vergonha, puta,
de com tão ruim pentelho,
sobre seres vaso velho,
tomes a capa de enxuta?
és puta tão dissoluta,
que diz o Moço enjoado,
que já ficou ensinado,
e nunca mais te veria,
porque sempre d'água fria
há medo o gato escaldado.