Dona Maria e Dom Arico
O que é isto que aqui está
No pino da meia noite?
Si tu és alma em pena
Remédio te quero dar,
Si és cousa doutro mundo
Quero-te desconjurar.
"Eu não sou alma em pena
Para vós remédio me dar,
Nem sou cousa doutro mundo
Para vós me desconjurar.
Lá de trás daquela esquina
Estão sete a vos esperar.
—Pelos sete que lá estão
Meu pé atrás não voltaria,
Dom Arico há de cear
Em casa de Dona Maria.
Não jogo jogo de bala
Qu'é jogo de covardia,
Jogo com jogo de espada
Qu'é jogo de valentia.
Dom Arico matou seis;
Ficou um por mais somenos,
Dele conta não fazia.
Este atirou-lhe uma bala
Da mais alta que havia,
A bala caiu no peito
E o peito lhe feria,
Dom Arico foi cair
Na porta de Dona Maria;
Pelos ais e os gemidos
Acordava quem dormia.
—O que não dirão agora?
Que mataram este coitado,
Que morreu de mal de amores,
Que é um mal desesperado!
Si me acharem aqui morto
Não me enterrem no sagrado;
Me enterrem em campo de rosas
Das quais eu fui namorado.
Trazei papel, trazei tinta,
Trazei vossa escrevaninha,
Eu quero escrever saudades
No vosso peito, Maria.