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Elucidário Madeirense/Advertência Preliminar

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Advertência Preliminar

(Da Primeira Edição)

Destinava se a publicação desta obra a celebrar o quinto centenário do descobrimento da Madeira, constituindo uma das comemorações com que entre nós se deveria ter solenizado aquele notável e auspicioso acontecimento. Pelos motivos que sumariamente deixamos expostos no artigo Descobrimento do Arquipélago, entenderíamos que essa celebre obra para ser completa, teria que revestir uma feição de carácter nacional e não se restringir apenas aos apertados limites duma consagração regionalista a dentro do isolamento e da distância a que ficam estas afastadas ilhas. Perderam se ou foram de todo esquecidas as palavras com que na imprensa da capital se fez recordar o dever dessa comemoração, chamando se especialmente as atenções da Academia das Sciencias de Lisboa e de modo muito particular da Comissão encarregada de promover a celebração dos centenários das nossas conquistas e descobertas, que existe e funciona no seio da mesma Academia. Se a conquista de Ceuta, por ser a primeira realizada além das fronteiras continentais, mereceu uma condigna e solene comemoração, não podia também ser esquecido o descobrimento deste arquipélago, que verdadeiramente assinala o início da nossa brilhante odisseia de navegantes e de futuros dominadores dos mares.

Não é para causar estranhezas que assim tivesse acontecido, sabendo se que essa data gloriosa passou despercebida na capital deste arquipélago, à parte umas breves e fugidias referências que lhe fez a imprensa diária do Funchal. Coube unicamente à Junta Geral deste distrito a honra de comemorar o quincentenário do descobrimento da Madeira, mandando executar a maqueta do monumento a erigir ao descobridor João Gonçalves Zarco e fazendo publicar a obra a que estas palavras servem de introdução. Foi na sessão ordinária do mês de Maio de 1917 que o membro daquela corporação administrativa Sr. João Augusto de Pina apresentou a proposta para a publicação deste trabalho, que deveria ser moldado nas bases contidas na mesma proposta e que constam das seguintes palavras:

“.... Quero referir me a uma obra literária, de carácter histórico, mas de feição popular e principalmente destinada às classes menos doutas, de fácil e pronta consulta, em que toda a vida deste arquipélago nas suas múltiplas manifestações e variados aspectos seja posta em saliente relevo, embora em resumido quadro, a fim de não dar a essa obra proporções demasiadamente exageradas. Esta circunstância não exclui a necessidade de ocupar-se esse trabalho dos principais acontecimentos ocorridos na Madeira no longo período de cinco séculos, das biografias dos seus homens mais notáveis, dos seus usos, costumes e tradições, da sua actividade literária, científica, artística, industrial, agrícola e comercial, da benignidade do seu clima, da riqueza da sua fauna e da sua flora, das incomparáveis belezas da sua paisagem, etc., etc., de molde a tornar essa obra um repositário abundante de informações e notícias, que possa particularmente interessar a todos aqueles que, por falta de tempo ou de preparação especial, não lhes seja possível consagrar se a demorados estudos e mais largas investigações».

Dentro da esfera dos nossos apoucados recursos e do limitado espaço de que podíamos dispor, procuramos desempenhar nos com o mais escrupuloso empenho do pesado encargo que voluntária e desinteressadamente tomámos, escrevendo um livro que não somente satisfizesse às necessidades das classes populares, para as quais era especialmente destinado, mas que também fosse de proveitosa consulta para as pessoas cultas, indicando as mais copiosas e autorizadas fontes a que devem recorrer os que desejarem alcançar notícia mais completa e desenvolvida acerca dalguns dos assuntos versados na presente obra. E, apesar da feição elementar que caracteriza o Elucidário Madeirense, não nos julgamos dispensados de aprofundar o estudo de certos pontos da história deste arquipélago, aproveitando para isso algumas demoradas investigações por nós feitas em anos já passados e realizando recentemente outras novas, tendo deste modo carreado alguns apreciáveis materiais para a história destas ilhas, como deixamos acentuado no artigo História Madeirense. Ao compromisso tomado, faltou apenas a observância duma cláusula, que, motivos de todo o ponto alheios a nossa vontade, não permitiram realizar: a publicação deste livro dentro do tempo que primitivamente lhe fora assinalado.

Este nosso trabalho foi enriquecido com a valiosa colaboração dos nossos distintos amigos Adolfo César de Noronha e major Alberto Artur Sarmento, tão sobejamente conhecidos entre nós pelos seus raros talentos e vasta ilustração, e especialmente pelos aprofundados conhecimentos que possuem das coisas madeirenses. Agradecendo essa colaboração, sinceramente lamentamos que ela se tivesse apenas limitado a uma parte do primeiro volume, ficando o resto desta obra privado do muito que havia a esperar da comprovada competência destes nossos ilustres colaboradores.

Devemos aqui advertir que alguns escritos nossos acerca de diversos assuntos madeirenses, publicados em vários jornais do Funchal e nomeadamente no antigo Heraldo da Madeira, no Diário da Madeira e no Diário de Notícias, foram largamente aproveitados para a elaboração deste trabalho, reproduzindo se parcial ou integralmente muitos desses artigos, conforme as exigências das matérias de que tivemos de ocupar nos.