Em esdrúxulos
Ao governador
Antônio Luís Gonçalves da Câmara
Coutinho em agradecimento da
carta que escreveu a sua majestade
pela falta da moeda do Brasil
Escreveis ao Rei Monárquico
O mal do Estado Brasílico,
Que perdendo o vigor flórido,
Se vê quase paralítico,
Porém vós, como Católico,
Imitando a Deus boníssimo,
Lhe dais a Piscina plácida
Para seu remédio líquido.
De todo o corpo Repúblico
O dinheiro é nervo vívido,
E sem ele fica lânguido,
Fica todo debilíssimo.
Em vossos arbítrios ótimos
Sois três vezes científico,
Ditando o governo de
Ético, Econômico, e Político.
Aos Engenhos dais anélitos,
Que estando de empenhos tísicos,
Tornam em amargo vômito
O mesmo açúcar dulcíssimo.
Também da pobreza mísera
Atendeis ao estado humílimo,
Assim como o raio Délfico
Não despreza o lugar ínfimo.
Aos Mercadores da América
Infundis de ouro os espíritos.
Quando propondes o próvido
Com pena de ouro finíssimo.
Pasma em Portugal atônito
Todo o estadista satírico,
E as mesmas censuras hórridas
Vos dão fáceis Panegíricos.
Se falais verdade ao Príncipe,
Não temais o Zoilo rígido,
Que ao Sol da verdade lúcida
Não faz mal o vapor crítico.
O Brasil a vossos méritos,
Como se fora Fatídico,
Vos anuncia o cetro máximo
Sobre o Ganges, e mar Índico.
Sois em vossas obras único
Para maiores, ou mínimos,
Sois na justiça integérrimo,
Sois na limpeza claríssimo.
Sois descendente do Câmara,
Aquele Gonçalves ínclito,
Que com discurso Astronômico
Sujeitou golfos marítimos.
Sois também Coutinho impávido,
Mas vosso couto justíssimo
Não val a homicidas réprobos,
Nem a delinqüentes ríspidos.
Vosso filho primogênito
Aprende de vós solícito
As virtudes para Bélico,
As ações para Magnífico.
Em seus anos inda lúbricos
Tem verdores prudentíssimos,
É com gravidade lépido,
É sem soberba ilustríssimo.
Vivei Senhor muitos séculos
Entre aplausos felicíssimos
Onde nasce Apolo férvido,
Onde morre Apolo frígido.