Epigramma transcendental
Aspeto
Quem vos fez, céo profundo e luminoso,
Terra fecunda, poderoso oceano,
E a ti deu vida, coração humano,
Que és todo um céo e um mar mysterioso,
Bem sabia que o céo, o mar, a terra,
Tinham de ser só carcere e gehena;
Que havia a vida ser só lucto e pena,
E campo, o coração, de eterna guerra.
Por isso o estranho artifice sombrio,
Que, concebendo o plano da obra ingente,
Ironico talvez, talvez demente,
Logo se arrependeu e o confundiu;
Não deu seu nome, como o archonte epónymo,
Á obra de sua mente e sua mão:
O Creador furtou-se á Creação...
E sendo um máo auctor ficou — anonymo.
1879.