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Era na estação calmosa

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Era na estação calmosa,
De novembro o m’ez corria,
E da tarde as horas sette
Da Sé no bronze batia.

Já do sol o clarão frouxo
Desmaiava no horizonte,
E penumbro se esparzia
Pelas simeiras do monte.

Das trevas a soberana
Desdobrava o palio escuro,
E a dourada luz diurna
Nas alpes pairava a duro:

Quando á nós se dirigiram
Trez mancebos mui galantes,

Bellos, dengues, adamados,
Bicos, nobres e chibantes.

De entre os trez um, que gamenho
Se-amostrava com vigor,
Era um lindo figurino,
Com luxo, garbo e primor.

Oh! que par de collarinhos!
Grita, ao vel-o, um capadocio,
Vem pendentes do cachaço
D’aquelle pobre beocio!

Cala a bocca, tagarella,
Exclamou mais um terceiro,
—Aquillo que vez é fronha,
Vestida n’um travesseiro!

Alto lá! bradei altivo,
Fóra, a bulha, isto é sophisma;
Nam é fronha, sam manipulas
Que o prelado usa no chrisma.

Ou segundo o Cobarrubias,
Que é jurista de quilate,
Sam as pernas das ceroulas,
Do gorducho do Mirati,

E si turram na disputa,
Similhante ao grande Evandro,
Provarei que sam as folhas
Do projecto do Timandro.

Ou conforme outros autores,
Que nos vem de barre-fóra,
Fraldas sam de ampla camisa,
Ou anagoas de Senhora.