Esaú e Jacó/LXXXII

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Ao cabo de poucas semanas, a família Batista saiu da casa Santos, e tornou à Rua de São Clemente. A despedida foi terna, as saudades começaram antes da separação, mas a afeição, o costume, a estima, — a necessidade, em suma, de se verem a miúdo compensaram a melancolia, e a gente Batista levou promessa de que a gente Santos iria vê-la daí a poucos dias.

Os gêmeos cumpriram cedo a promessa. Um deles, parece que Paulo, foi lá nessa mesma noite com recado da mãe para saber se tinham chegado bem. Disseram-lhe que sim, acrescentando Batista, para abreviar a visita, que estavam bastante cansados. Os olhos de Flora desmentiram esta afirmação; mas dentro em pouco achavam-se não menos tristes que alegres. A alegria vinda da prontidão de Paulo, a tristeza da ausência de Pedro. Quisera-os ambos naturalmente; mas, como é que as duas sensações se mostravam a um tempo, eis o que não entenderás bem nem mal. Certamente, os olhos iam diversas vezes para a porta, e uma vez pareceu à moça ouvir rumor na escada; tudo ilusão. Mas estes gestos, que Paulo não viu, tão contente estava de se haver adiantado ao irmão, não eram tais que a fizessem esquecer o irmão presente.

Paulo saiu tarde, não só para o fim de aproveitar a ausência de Pedro, mas ainda porque Flora o fazia demorar, com o intuito de ver se o outro chegava. Assim que, a mesma dualidade de sensação enchia os olhos da moça, até à hora da despedida, em que a parte triste foi maior que a alegre, pois que eram duas ausências, em vez de uma. Conclui o que quiseres, minha dona; ela recolheu-se para dormir, e reconheceu que, se se não dorme com uma tristeza na alma, muito menos com duas.