Eu (Augusto dos Anjos, 1912)/O Caixão Phantastico
Aspeto
O Caixão Phantastico
Célere ia o caixão, e, nelle, inclusas,
Cinzas, caixas craneanas, cartilagens
Oriundas, como os sonhos dos selvagens,
De aberratorias abstracções abstrusas!
Nesse caixão íam talvez as Musas,
Talvez meu Pae! Hoffmannicas visagens
Enchiam meu encéphalo de imagens
As mais contradictorias e confusas!
A energia monistica do Mundo,
A’ meia noite, penetrava fundo
No meu phenomenal cerebro cheio.
Era tarde! Fazia muito frio.
Na rua apenas o caixão sombrio
Ia continuando o seu passeio!